Pesquisa de equipe internacional revelou que povos asiáticos realizaram a maior migração da história da humanidade há milênios. Os hominídeos atravessaram 20 mil quilômetros, viajando do norte da Ásia até chegarem à América do Sul.
O grupo sequenciou o DNA de 1537 indivíduos de 137 etnias diferentes. Com isso, descobriram uma rota de migração que começa na África, passa pelo norte do continente asiático e termina na Terra do Fogo, na atual Argentina – considerada o ponto final da migração humana no planeta.
“Essas descobertas destacam como a história populacional e as pressões ambientais moldaram a arquitetura genética das populações humanas no Norte da Ásia e na América do Sul”, escreveram os pesquisadores.
Migrantes passaram por ambientes hostis
O estudo sugere que um grupo pioneiro enfrentou ambientes extremos numa jornada que durou séculos. Há 14 mil anos, essa população de migrantes chegou pelo noroeste da América do Sul, atravessando a região de fronteira onde o Panamá se encontra com a Colômbia, nos territórios atuais.
Essa massa se dividiu em dois grupos: um seguiu pela bacia do Amazonas e outros se moveram em direção ao sul. No decorrer da migração, houve novas separações e os bandos menores se estabeleceram em assentamentos nos Andes, no pantanoso Chaco e nas frias planícies da Patagônia.
Os grupos de hominídeos se fixaram em novos nichos ecológicos e, com o passar das gerações, foram se adaptando para enfrentar os desafios únicos de cada região, explicou a doutora Elena Gusareva, autora principal do estudo, em um comunicado.
“Nossas descobertas destacam a extraordinária adaptabilidade dos primeiros e diversos grupos indígenas que se estabeleceram com sucesso em ambientes extremamente diferentes. Usando a tecnologia de sequenciamento de genoma completo de alta resolução do SCELSE, podemos agora desvendar a profunda história da migração humana e as pegadas genéticas deixadas pelos primeiros colonizadores”, disse a pesquisadora.

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Grupo busca entender doenças
A pesquisa faz parte da iniciativa GenomeAsia100K, que une pesquisadores de todo o continente para mapear o DNA de diferentes etnias da Ásia. O projeto busca aprimorar o entendimento do genoma humano, trazendo uma maior base de dados fora da Europa.
“Isso poderia explicar por que algumas comunidades indígenas eram mais suscetíveis a doenças ou enfermidades introduzidas por imigrantes posteriores, como os colonizadores europeus. Compreender como as dinâmicas passadas moldaram a estrutura genética da população atual pode gerar percepções mais profundas sobre a resiliência genética humana”, comentou Gusareva.
As informações coletadas servirão principalmente à área da saúde. O grupo pretende identificar os causadores genéticos de doenças crônicas e espera poder encontrar as curas e tratamentos para as enfermidades.
“Nossas novas descobertas ressaltam a importância de aumentar a representatividade das populações asiáticas em estudos genéticos, especialmente porque a genômica desempenha um papel crucial na medicina personalizada, na saúde pública e na compreensão da evolução humana”, concluiu o professor Stephan Schuster, pesquisador participante do artigo.