A SpiN-TEC, primeira vacina contra a Covid-19 desenvolvida integralmente no Brasil, passou, recentemente, pela segunda de três fases dos testes clínicos e está mais próxima de chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS)
Criada por pesquisadores do CTVacinas, centro de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o imunizante aguarda, agora, autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a etapa final de testes.
Caso o cronograma siga conforme o previsto, a vacina poderá ser incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) a partir de 2028.
Detalhes da fase 2 da vacina de Covid-19 100% brasileira
- A fase 2 dos estudos clínicos acompanhou 320 voluntários durante um ano e teve resultados animadores;
- Os testes demonstraram que a SpiN-TEC é segura e capaz de estimular o sistema imunológico;
- Os participantes foram divididos em dois grupos: metade recebeu a vacina brasileira, enquanto os demais tomaram a dose da Pfizer/BioNTech, usada atualmente no Brasil;
- A expectativa é de que a fase 3, que avaliará a eficácia real da vacina na prevenção de infecções e casos graves, comece em 2026 e envolva 5,3 mil voluntários espalhados por diferentes regiões do país. A etapa final deve durar pelo menos um ano, devido à complexidade operacional envolvida.
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Diferente das vacinas atualmente disponíveis no país — todas importadas —, a SpiN-TEC foi idealizada, desenvolvida e testada no Brasil.
Segundo os cientistas, isso representa não apenas um ganho logístico e econômico, mas, também, estratégico. “Ter uma vacina 100% nacional significa autonomia em saúde pública e menor dependência de acordos internacionais”, destaca Helton Santiago, diretor dos ensaios clínicos do CTVacinas, em nota.
Além da independência tecnológica, a SpiN-TEC apresenta outras vantagens. Seu custo de produção é mais baixo e ela pode ser armazenada em temperatura ambiente por até 15 dias — diferencial importante para distribuição em áreas remotas do país.
Outro ponto relevante é sua formulação inovadora. Enquanto os imunizantes atuais miram exclusivamente na proteína Spike (S), que sofre frequentes mutações, a SpiN-TEC combina essa proteína com a proteína N, estrutural e mais estável, ambas fundidas em uma única molécula batizada de “SpiN”.
Essa abordagem visa potencializar a resposta dos linfócitos T, células do sistema imunológico responsáveis por combater o vírus mesmo quando os anticorpos neutralizantes falham.
“As variantes do coronavírus têm driblado os anticorpos. Por isso, nossa estratégia foca em fortalecer a imunidade celular, que é mais eficiente em impedir a progressão para formas graves da doença”, explica o coordenador do CTVacinas, Ricardo Gazzinelli, na mesma nota.
A SpiN-TEC também se destaca por ser marco científico: é a primeira vacina criada inteiramente por uma instituição brasileira a avançar até essa fase dos estudos clínicos.
Gazzinelli enfatiza que o projeto está enfrentando um dos maiores desafios da ciência nacional — o chamado “vale da morte”, termo usado para descrever a dificuldade de transformar descobertas acadêmicas em produtos concretos. “Estamos mostrando que é possível superar essa barreira e construir uma base sólida para a soberania vacinal do Brasil”, afirma.

O Ministério da Saúde, por enquanto, continua a depender da importação de vacinas, como as 57 milhões de doses da Pfizer já adquiridas para uso até 2026.
Mas, com a SpiN-TEC no horizonte, o país pode estar prestes a dar passo importante rumo à autonomia na produção de imunizantes — e não apenas contra a Covid-19. A expectativa é que o conhecimento acumulado nessa jornada sirva de base para o desenvolvimento de outras vacinas brasileiras no futuro.