O bilionário e filantropo Bill Gates elevou o tom das críticas contra Elon Musk, afirmando que o empresário estaria “matando as crianças mais pobres do mundo” ao promover cortes drásticos na assistência ao desenvolvimento dos Estados Unidos. As declarações foram feitas durante entrevistas ao Financial Times e ao New York Times, em meio ao anúncio de um novo plano da Fundação Gates, que prevê sua extinção até 2045.

Gates acusou Musk de agir com ignorância ao interferir na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), responsável por grande parte da ajuda humanitária global do país. A agência foi na prática desativada em fevereiro pelo chamado Department of Government Efficiency (DOGE), criado por Musk, com a justificativa de que era “hora de acabar com isso”.

Cortes impactam ações de saúde global

Segundo Gates, a decisão abrupta deixou medicamentos e alimentos essenciais apodrecendo em depósitos, colocando em risco iniciativas de combate a doenças como sarampo, HIV e poliomielite. Um dos projetos afetados ficava na província de Gaza, em Moçambique, onde o financiamento ajudava a evitar a transmissão do HIV de mães para filhos.

O cofundador da Microsoft afirmou que Musk cancelou os repasses ao hospital local sob a crença equivocada de que os Estados Unidos estariam fornecendo preservativos ao grupo Hamas, que atua na Faixa de Gaza, no Oriente Médio.

“Mas as pessoas que estão fazendo os cortes são tão geograficamente analfabetas que pensam que é Gaza e preservativos. Será que elas vão conhecer os bebês que contraíram HIV porque esse dinheiro foi cortado? Provavelmente não”, disse Gates ao NYT.

Tradicionalmente visto como um modelo de uso responsável da riqueza, Bill Gates foi questionado sobre a crescente distância entre a filantropia dos bilionários, especialmente em relação a Elon Musk. O entrevistador do NYT observou que, enquanto Gates tem sido reconhecido por suas iniciativas filantrópicas, Musk, apesar de ser o homem mais rico do mundo, tem sido criticado por não se engajar de forma significativa em causas humanitárias.

Gates, então, aproveitou para comentar ironicamente sobre a flexibilidade do Giving Pledge — um compromisso que permite aos signatários cumprir a promessa de doar a maior parte de sua fortuna, mas apenas após a morte. O fundador da Microsoft fez uma crítica indireta a Musk, destacando que, enquanto ele assinava o Pledge, o bilionário tinha sido responsável por cortes orçamentários na USAID, afetando diretamente a ajuda a países em extrema pobreza.

Enquanto isso, o homem mais rico do mundo tem estado envolvido nas mortes das crianças mais pobres do mundo.

Bill Gates ao New York Times

Novo rumo para a Fundação Gates

• Em paralelo às críticas, Bill Gates anunciou um plano para acelerar os gastos filantrópicos de sua fundação, que será encerrada em 2045.
• A estimativa é que mais de US$ 200 bilhões sejam aplicados nos próximos 20 anos, o dobro do que foi gasto nos últimos 25 anos.
• As áreas prioritárias continuarão sendo saúde global, vacinas, saúde materna e infantil.
• Gates justificou a mudança como uma forma de obter impacto máximo em curto prazo, com foco em soluções definitivas para problemas como a erradicação da poliomielite e a cura do HIV.
• “Isso nos dá clareza. Teremos muito mais recursos porque estamos acelerando os investimentos”, explicou.

Choques anteriores entre os bilionários

Bill Gates e Elon Musk já haviam se desentendido no passado. Embora Musk tenha assinado o Giving Pledge, ele criticou abertamente a filantropia, chamando-a de “besteira” e defendendo soluções comerciais como os carros elétricos da Tesla.

Em 2022, Musk reagiu com indignação ao descobrir que Gates havia feito uma aposta contra ações da Tesla, chamando-o de hipócrita. Na época, publicou uma foto desfavorável de Gates no Twitter (atualmente X) com a legenda: “Caso precise perder a vontade rapidamente”.

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Críticas a Trump e temor por políticas fiscais

Embora menos incisivo, Bill Gates também demonstrou preocupação com ações do presidente Donald Trump, especialmente quanto à nomeação de Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde, conhecido por posições contrárias às vacinas. Ele teme ainda que Trump tente revogar o status de isenção fiscal das fundações filantrópicas por decreto.

Apesar disso, o foco das críticas mais duras ficou com Musk. “Ele não entende o que a USAID faz ou como funciona”, disse Gates, que vê os cortes promovidos pelo empresário como uma ameaça aos resultados de 25 anos de trabalho da Fundação Gates. “Ele exagera na obsessão com Marte”, concluiu.