Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (04) (que você confere aqui) repercutiu os debates sobre o misterioso objeto interestelar Oumuamua – considerado um possível “artefato extraterrestre” por alguns cientistas.
O astrônomo Felipe de Almeida Fernandes explicou o que se sabe até agora sobre esse corpo espacial e quais as principais hipóteses para seu comportamento. Fernandes é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Ele é doutor em Astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e realizou pós-doutorado no IAG/USP.
“Nosso sistema solar tem recebido visitas inesperadas — verdadeiros mensageiros de outras estrelas. O mais famoso deles, o Oumuamua, desafiou a ciência com seu formato e movimentos estranhos, levando a uma pergunta digna de ficção: seria ele uma nave alienígena?”, questionou o astrônomo Marcelo Zurita, apresentador do Olhar Espacial.
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Objeto interstelar intriga a ciência há oito anos
Em 2017, astrônomos do Havaí detectaram o primeiro objeto interestelar conhecido a visitar o Sistema Solar. Nomeado de Oumuamua, o corpo celeste intrigou a comunidade científica por seu formato incomum e comportamento inesperado. “Ele chamou a atenção do mundo. Os principais telescópios do planeta pararam tudo para apontar para ele”, disse Fernandes.
Esse objeto interstelar teria até 400 metros de comprimento e seria cerca de 10 vezes mais longo do que largo – uma proporção maior do que qualquer asteroide ou cometa observado na área de influência do Sol, segundo a NASA.
“Mesmo nos maiores telescópios ele era um pontinho, mas pudemos ver a variação do brilho ao longo do tempo. Com isso, conseguimos saber a forma desse corpo. A melhor explicação é que ele teria um formato de charuto”, comentou Fernandes.

Originalmente foi classificado como cometa, mas não apresentou atividade cometária quando passou perto do Sol, segundo a agência espacial americana. Estudos já o apontaram como uma bola de poeira, um iceberg cósmico ou objeto de tecnologia alienígena, mas a natureza do Oumuamua ainda é um mistério.
Seu nome significa “um mensageiro de longe que chega primeiro”, em havaiano. Ele apresenta uma órbita hiperbólica, ou seja, não está preso ao redor de um astro maior, mas vaga solto pelo Universo e sofre a ação gravitacional de diversos corpos.
Nunca foi cogitada uma colisão com a Terra, já que ele se afastava de nosso planeta a uma velocidade de mais de 315 mil km/h. Desde janeiro de 2018, o Oumuamua não é mais visível por telescópios, mesmo no espaço, mas pesquisadores ainda se dedicam a estudá-lo.
Oumuamua seria uma nave alienígena?
Após passar perto do Sol, o Oumuamua mudou de trajetória repentinamente. Esse evento intrigou astrônomos da época, que não conseguirem definir a causa do movimento inesperado.
Dentre eles, o professor de Harvard Abraham Avi Loeb, que se debruçou sobre o caso e propôs: Oumuamua poderia ser um “artefato alienígena”. Nos anos seguintes, Loeb continuou buscando evidências para sua hipótese e as juntou em seu livro “Extraterrestre: O primeiro sinal de vida inteligente além da Terra”, publicado em 2021.

Durante esses debates, Fernandes produziu um estudo que questionava a hipótese de que esse objeto interestelar fosse produto de uma civilização extraterrestre. Na pesquisa, ele propôs uma nova explicação para a alteração repentina de rota:
“Quando um objeto passa perto do Sol, os materiais voláteis em sua composição são evaporados e essa ejeção da massa cria uma força no que sobra. No Oumuamua, nós não observamos essa atividade, mas isso não significa que não estava lá, significa que ela estava abaixo do limite de detecção dos telescópios. Foram feitos cálculos para mostrar que isso seria capaz de explicar a mudança de trajetória”, explicou Fernandes.
O astrônomo comentou que encontrar vida fora da Terra é o que todo cientista quer, mas são necessárias evidências extraordinárias para fazer essa hipótese. Por isso, as suposições de Loeb não foram levadas a sério pela comunidade cientifica.
“O Oumuamua não precisa ser uma nave alienígena para ser um objeto extremamente importante a ser estudado. Ele já é muito interessante do ponto de vista científico”, concluiu o pesquisador.