Em um feito inédito, astrônomos podem ter flagrado planetas recém-nascidos em seus estágios iniciais de formação ao redor de estrelas muito jovens. Uma equipe formada por cientistas do Japão e de Taiwan analisou 78 discos de gás e poeira a cerca de 460 anos-luz da Terra, no complexo nebular Rho Ophiuchus, o local de formação estelar mais próximo do Sistema Solar.
Em poucas palavras:
- Cientistas detectaram sinais inéditos de planetas se formando ao redor de estrelas extremamente jovens;
- Eles analisaram 78 discos de gás e poeira usando o potente radiotelescópio ALMA, no Chile;
- Com software avançado, foi possível triplicar a resolução das imagens, que revelaram estruturas surpreendentes nos discos;
- Essas estruturas sugerem que planetas influenciam o ambiente desde os estágios iniciais de vida;
- Importante ressaltar que essas estruturas nunca tinham sido vistas em estrelas tão jovens até agora.
Segundo o estudo, que foi publicado no periódico científico The Publications of the Astronomical Society of Japan, essas estruturas seriam discos protoplanetários, considerados os berços dos planetas.
Descoberta revela que planetas e estrelas podem se formar juntos desde o início
Nesses discos, a equipe identificou formas como anéis, espirais e outras subestruturas que ainda não tinham sido observadas em estrelas tão jovens, com apenas algumas centenas de milhares de anos. Embora isso pareça muito, a título de comparação, o Sol tem 4,6 bilhões de anos. Isso pode significar que planetas e estrelas podem evoluir juntos desde os primeiros momentos.
Quando uma estrela se forma, ela nasce do colapso de nuvens densas de gás e poeira. Esse processo cria uma protoestrela, que vai crescendo ao absorver o material ao redor. Esse crescimento continua até que a protoestrela atinja massa suficiente para iniciar a fusão de hidrogênio, liberando energia no núcleo. A partir daí, ela se torna uma estrela jovem. Ao redor dela, sobra um disco achatado de gás e poeira onde os planetas começam a se formar.
À medida que os planetas se desenvolvem, sua gravidade interfere nesse disco. Eles empurram ou puxam o material ao redor, criando estruturas como anéis e lacunas. A dúvida dos astrônomos era saber em que momento essas formas começam a surgir.
Para entender isso melhor, os cientistas usaram o Atacama Large Millimeter/submillimeter (ALMA), um conjunto de 66 antenas instalado no norte do Chile. Considerado o maior complexo de radiotelescópios em operação do mundo, esse observatório é capaz de capturar detalhes finos nos discos protoplanetários.

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Software revolucionário triplica nitidez das imagens
Outros projetos do ALMA, como o DSHARP e o eDisk, já tinham identificado estruturas em discos de estrelas na faixa de um milhão de anos. No entanto, estrelas muito jovens, com até 100 mil anos, ainda não apresentavam essas formas. A nova pesquisa focou em estrelas com idades intermediárias, entre esses dois marcos (100 mil e um milhão de anos).
Para obter mais detalhes, os cientistas aplicaram um software chamado PRIISM, sigla em inglês para “Módulo Python para Imagens de Radiointerferometria com Modelagem Esparsa”, que melhora a nitidez das imagens do ALMA.

Com esse método, eles conseguiram triplicar a resolução das imagens em metade dos discos analisados. Além disso, a amostra usada foi quatro vezes maior que a dos projetos anteriores. Como resultado, 27 dos 78 discos mostraram estruturas bem definidas, sendo que 15 delas nunca tinham sido vistas antes.
As subestruturas foram encontradas em discos com larguras cerca de 30 vezes maiores que a distância da Terra ao Sol. Isso sugere que esses padrões se formam bem antes do que se pensava, ainda na fase rica em gás e poeira.
Em um comunicado, Ayumu Shoshi, pesquisador da Universidade de Kyushu, no Japão, e líder do estudo, disse que as novas imagens ajudaram a preencher a lacuna entre os estudos anteriores. “Embora essas descobertas se refiram apenas aos discos na constelação de Ophiuchus, estudos futuros de outras regiões de formação estelar revelarão se essa tendência é universal”.