Nas profundezas do Lago Chala, um lago vulcânico situado entre a Tanzânia e o Quênia, cientistas descobriram um tesouro geológico: um registro detalhado das variações do campo magnético da Terra ao longo de 150 mil anos. Além disso, as camadas de sedimentos no fundo do lago guardam informações cruciais sobre as mudanças climáticas que ocorreram no período em que os humanos modernos migraram da África para outras partes do mundo.
No estudo, publicado na revista Geochemistry, Geophysics, Geosystems, os cientistas identificaram seis eventos de variação magnética ao longo dos 150 mil anos analisados. Um deles, até então desconhecido, pode estar relacionado a turbulências no núcleo terrestre, onde o movimento do ferro líquido gera o campo magnético do planeta.
Anita Di Chiara, paleomagnetista do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália, explica que entender as condições ambientais que influenciaram a dispersão humana é fundamental. “Precisamos de métodos precisos para datar esses sedimentos e reconstruir o clima do passado”, disse ela à Live Science.
A chave para essa descoberta está no alinhamento de minerais magnéticos presentes nas rochas, que capturam a orientação do campo magnético no momento de sua formação. Embora a maioria dos registros conhecidos venha de regiões polares, onde o sinal magnético é mais intenso, o Lago Chala oferece uma rara oportunidade de estudar essas variações em uma zona equatorial.
Para estabelecer uma linha do tempo, os pesquisadores compararam as camadas sedimentares do lago com registros geológicos de outras partes do mundo, cujas idades já são conhecidas. Uma das camadas analisadas contém cinzas da colossal erupção do vulcão Toba, na Indonésia, ocorrida há 74 mil anos – um marco importante para calibrar os dados.
Lago revela os segredos do campo magnético
O lago é ideal para esse tipo de estudo porque sua formação vulcânica e o fluxo de água proveniente das florestas ao redor garantem que os sedimentos se depositem de forma organizada, sem grandes distúrbios causados por enchentes ou correntes intensas. Isso permite que as camadas geológicas se preservem de maneira excepcionalmente clara.
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Embora essas oscilações não tenham sido perceptíveis para os povos antigos, hoje elas são de grande importância, já que o campo magnético nos protege de partículas solares carregadas. Um enfraquecimento nesse escudo natural pode afetar satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação.
“Esses dados são essenciais para prever o comportamento futuro do campo magnético”, destacou Di Chiara. Com essas informações, os cientistas poderão entender melhor as dinâmicas do núcleo terrestre e antecipar possíveis impactos na tecnologia moderna.