É verdade que grávidas não podem tomar energético?

A gravidez é um processo intenso que transforma profundamente o corpo da mulher. As mudanças hormonais, o aumento do volume sanguíneo, o crescimento do útero e o peso do bebê afetam praticamente todos os sistemas do organismo.

É comum que a gestante enfrente sintomas como fadiga constante, dores lombares, sono irregular, mudanças de humor, enjoos e vontade frequente de urinar. Tudo isso pode afetar diretamente a disposição e a rotina diária.

Diante desse cansaço acumulado, não é raro que algumas mulheres considerem o consumo de bebidas como energético para tentar se manter mais ativas. No entanto, o uso de energético por grávidas e gestantes levanta preocupações sérias, já que o impacto dessas substâncias no organismo da mãe e do bebê pode ser maior do que se imagina.

Por que gestantes não podem tomar energéticos?

As bebidas energéticas estão entre os produtos mais consumidos por jovens adultos e adultos em todo o mundo. Com promessas de mais energia, foco e resistência, elas combinam altas doses de cafeína, açúcares e outros estimulantes como taurina e ginseng.

No entanto, o consumo dessas bebidas por gestantes levanta uma série de preocupações médicas. Segundo estudo publicado no National Library of Medicine, os riscos associados à ingestão de energéticos durante a gravidez são reais e significativos tanto para a mãe quanto para o bebê.

Quando uma mulher consome energético, os componentes da bebida são rapidamente absorvidos pela corrente sanguínea e atravessam a placenta, alcançando o feto em questão de minutos.

O principal ingrediente ativo, a cafeína, é metabolizado de forma mais lenta durante a gestação, o que prolonga sua presença no corpo da mãe e potencializa os efeitos colaterais. O feto, por sua vez, não possui enzimas hepáticas plenamente desenvolvidas para metabolizar cafeína, o que significa que a substância se acumula em seu organismo.

Esse acúmulo pode prejudicar o desenvolvimento cerebral e cardíaco do bebê e, em casos mais graves, aumentar o risco de aborto espontâneo, baixo peso ao nascer e parto prematuro.

Imagem: Shutterstock/Dmitry Naumov

Além da cafeína, os energéticos frequentemente contêm aditivos como taurina, glucuronolactona e grandes quantidades de açúcar. Esses compostos, embora autorizados para consumo em adultos saudáveis, não têm segurança comprovada em gestantes.

A taurina, por exemplo, atua como estimulante do sistema nervoso central e pode alterar o ritmo cardíaco fetal. Já o excesso de açúcar contribui para o aumento do risco de diabetes gestacional e ganho de peso excessivo, dois fatores que complicam a gestação e podem exigir intervenções médicas como parto induzido ou cesárea antecipada.

De acordo com o artigo da National Library of Medicine, a restrição ao consumo de energéticos deve começar desde o momento em que a mulher descobre que está grávida. Isso porque o primeiro trimestre é crucial para a formação dos principais órgãos do feto.

Qualquer interferência no metabolismo celular nessa fase pode provocar alterações estruturais e funcionais. Mesmo pequenas doses de cafeína, se somadas a outras fontes como café, chá preto, refrigerantes ou chocolate, podem ultrapassar o limite diário recomendado para gestantes, que é de no máximo 200 miligramas por dia.

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O consumo de energéticos por gestantes com problemas pré-existentes agrava ainda mais os riscos. Mulheres com histórico de hipertensão arterial, arritmias cardíacas, ansiedade ou insônia devem evitar qualquer bebida estimulante, pois os efeitos podem ser intensificados durante a gravidez.

A cafeína e outros estimulantes elevam a frequência cardíaca, aumentam a pressão arterial e interferem na qualidade do sono. Para gestantes com tendência à ansiedade, esses efeitos podem desencadear crises, aumentar o estresse oxidativo no corpo e dificultar o controle emocional, prejudicando inclusive o vínculo com o bebê.

Cafeína
Cafeína / Crédito: Danijela Maksimovic (shutterstock / reprodução)

Além dos efeitos físicos, os energéticos também podem influenciar negativamente o estado psicológico da gestante. O consumo frequente pode causar irritabilidade, alterações de humor, dores de cabeça e até dependência leve.

Há registros clínicos de gestantes que desenvolveram taquicardia e tremores após o consumo de apenas uma lata de energético. Como o corpo da mulher passa por adaptações hormonais intensas durante a gestação, qualquer substância externa com efeitos sobre o sistema nervoso central pode provocar reações imprevisíveis.

O estudo também chama atenção para a desinformação presente em rótulos de energéticos. Muitos produtos não alertam para os riscos do consumo durante a gravidez ou usam termos genéricos como “não recomendado para crianças ou pessoas sensíveis à cafeína”, o que pode induzir ao erro.

Em alguns países, há propostas para incluir alertas mais específicos sobre os riscos em gestantes, mas essa medida ainda não é adotada globalmente. Diante da ausência de regulamentações claras, a responsabilidade recai sobre os profissionais de saúde e os próprios consumidores.

Por fim, os pesquisadores destacam que não há benefício comprovado no uso de energéticos durante a gravidez. Nenhum ganho de energia momentâneo compensa os riscos de comprometimento ao desenvolvimento fetal.

A recomendação médica, baseada em evidência científica, é clara: grávidas não devem consumir bebidas energéticas em nenhuma fase da gestação. A melhor forma de manter a energia e o bem-estar durante esse período é por meio de uma alimentação equilibrada, hidratação adequada e acompanhamento pré-natal regular.

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