Fóssil pré-histórico questiona ocupação humana nas Américas

No Uruguai, pesquisadores encontraram um fóssil de animal pré-histórico que tinha lesão no osso de seu calcanhar. Essa descoberta tem potencial de mudar o que sabemos da ocupação humana nas Américas.

O fóssil em questão é de uma preguiça-gigante (Lestodon armatus) e o achado indica que a intervenção humana começou há 33 mil anos, dez mil anos antes do que se imaginava até hoje.

Sítio arqueológico no qual o fóssil foi encontrado fica no Uruguai (Imagem: Reprodução)

O que o fóssil da preguiça tem que muda o que sabemos dos humanos nas Américas

  • O achado estava no sítio arqueológico Arroyo del Vizcaíno, sul do Uruguai;
  • A lesão — uma perfuração — é de 21 mm de diâmetro e 41 mm de profundidade, incompatível com causas naturais;
  • Para estudar a perfuração, os pesquisadores usaram tomografia computadorizada e moldagem de silicone;
  • A investigação microscópica indicou estriações paralelas finas no interior da cavidade. Isso significa que o objeto que o penetrou girou e se deslocou enquanto era inserido;
  • Também foi constatado que o ângulo de penetração (em torno de 60º em relação ao solo) sugere se tratar de uma caça a curta distância.

Essa constatação indica que a lesão seria compatível com ação de estocada, muito possivelmente querendo imobilizar a preguiça.

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Detalhe da perfuração no fóssil do animal
Lesão teria sido caçada por um humano durante uma caçada (Imagem: Reprodução)

Indo contra o pensamento comum

O fóssil vai contra o que pensamos atualmente sobre a chegada dos humanos às Américas, algo que, supostamente, aconteceu há cerca de 23 mil anos.

Isso, pois, a lesão constatada no fóssil sugere uma caça ativa da megafauna no sul da América do Sul antes mesmo do período do Último Máximo Glacial, que se passou entre 26,5 mil e 19 mil anos atrás.

No estudo, publicado no Swiss Journal of Palaeontology, os pesquisadores dizem que, “se confirmada, esta ferida em um fóssil de animal redefine nossa compreensão da adaptação humana a ambientes de megafauna”.

A constatação é animadora, contudo, a hipótese é preliminar, pois carece de mais estudos sobre os ossos do animal para confirmá-la ou refutá-la.

Como Arroyo del Vizcaíno foi descoberto

Em 1997, o Uruguai sofreu com uma forte seca, fazendo com que muitos cursos d’água secassem, em especialmente, os menores. Um deles, perto da cidade de Sauce (Uruguai), deixou à mostra vários restos da megafauna do Pleistoceno Sul-Americano.

Mais detalhes da lesão
Investigação aponta que perfuração não é compatível com causas naturais (Imagem: Reprodução)

Então, alunos do ensino médio da cidade, professores e vizinhos se juntaram e recuperaram parte desse material — cerca de 300 fósseis — antes que a chuva enchesse o local mais uma vez.

Hoje, Arroyo del Vizcaíno tem mais de 40 fósseis com marcas de corte, sendo alguns similares à perfuração no calcâneo, mostrando haver ainda mais interações dos humanos com a megafauna sul-americana.


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