Pesquisadores desenvolveram um novo microscópio para explorar a vida nos oceanos. O equipamento permite analisar com precisão o desempenho da fotossíntese de organismos marinhos como algas e corais, abrindo novas perspectivas para o estudo desses ecossistemas.
O equipamento, nomeado de Benthic Underwater Microscope imaging PAM (BUMP), é composto por um microscópio controlado por tela sensível ao toque e alimentado por uma bateria. Esse conjunto é pequeno e leve o suficiente para caber em uma mal, podendo ser transportado pelo mergulhador até o fundo do mar sem precisar da ajuda de um navio.
A equipe de engenheiros e cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego, responsável pelo desenvolvimento do BUMP, divulgou as primeiras imagens captadas com o novo instrumento. Os resultados foram publicados na revista Methods in Ecology and Evolution.
O grupo tem como foco entender a relação entre os corais e as microalgas que crescem em simbiose com eles. Com sua maior precisão, o novo microscópio pode revelar pela primeira vez o quão bem essas algas realizam a fotossíntese dentro do tecido do coral.
“Os recifes de corais estão em rápido declínio, perdendo suas algas simbióticas fotossintéticas no processo conhecido como branqueamento de corais. Agora temos uma ferramenta que nos permite examinar essas microalgas dentro do tecido coralino, de forma não invasiva e em seu ambiente natural” disse Or Ben-Zvi, pesquisadora líder do estudo, em um comunicado.
Microscópio revela detalhes do branqueamento dos corais
As microalgas têm cerca de 10 micrômetros de largura — aproximadamente 0,01 milímetro — sendo invisíveis a olho nu. Porém, elas ocupam uma posição importante para os ecossistemas marinhos, mantendo os corais vivos e ativos.
Quando mudanças em condições ambientais estressam os corais, eles expulsam essas pequenas algas, ficando pálidos em um processo conhecido como branqueamento. Sem as microalgas, esses organismos perdem sua fonte de alimento e se tornam mais vulneráveis a doenças e à morte.
Cientistas não tinham ferramentas apropriadas para ver detalhadamente esse fenômeno até a chegada do BUMP. O microscópio permite que os pesquisadores estudem a eficácia da produção de açúcares pelos corais ao medir a fluorescência vermelha — iluminação que reflete a quantidade de clorofila (organela essencial para a fotossíntese) nas microalgas.
“Quanto mais tempo passamos com este microscópio, mais esperamos aprender sobre os corais e por que eles fazem o que fazem sob certas condições. Estamos visualizando a fotossíntese, algo que antes era inédito nas escalas que estamos examinando, e que parece mágica”, comentou Ben-Zvi.

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Os dados coletados com o novo microscópio podem revelar sintomas que aparecem antes dos corais perderem as microalgas. Essas informações podem ser essenciais para o desenvolvimento de estratégias de mitigação para proteger esses organismos.
“É como uma enfermeira que mede seu pulso e diz como você está. Estamos verificando o pulso do coral sem aplicar uma injeção ou realizar um procedimento invasivo”, explicou a pesquisadora.
Agora, a equipe pretende usar o BUMP em outros organismos minúsculos que fazem fotossíntese para entendê-los em detalhes. “Como a fotossíntese no oceano é importante para a vida na Terra, uma série de outras aplicações são imagináveis com esta ferramenta, inclusive aqui na costa de San Diego”, concluiu Jules Jaffe, desenvolvedor do equipamento.