Analgésicos estão prejudicando a vida marinha, diz estudo brasileiro

Pesquisa da USP revela como medicamentos comuns destroem o fitoplâncton, organismo responsável por metade do oxigênio do planeta

Imagem: vovan/Shutterstock

Compartilhe esta matéria

Um estudo do Instituto de Biociências da USP, em parceria com a Universidade Ahmadu Bello (Nigéria), revelou que medicamentos como diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol podem prejudicar gravemente o fitoplâncton — algas microscópicas essenciais para a cadeia alimentar aquática e para a produção de oxigênio no planeta.

Segundo o professor Mathias Ahii Chia, coautor da pesquisa, “sem esses organismos, não existe produção primária, não existem ecossistemas e não tem oxigênio suficiente para respirar”. O estudo foi publicado no Journal of Applied Phycology.

Analgésicos como o paracetamol contaminam águas e comprometem vida aquática – Imagem: Aleksandra Gigowska/Shutterstock

Descobertas dos pesquisadores

  • Mesmo em baixas concentrações, os analgésicos causam estresse oxidativo nas algas, afetando sua fisiologia e reduzindo a biodiversidade.
  • Espécies menos adaptáveis, como o gênero Actinastrum, chegaram à extinção local durante os testes.
  • A pesquisadora Ramatu Idris Sha’aba, autora principal do artigo, explicou que os fármacos escolhidos são de uso amplo, persistem no ambiente por serem resistentes à degradação e não são totalmente eliminados em estações de tratamento de esgoto.

Leia mais:

Analgésicos
Remédios que usamos podem estar envenenando os rios e oceanos – Imagem: Cagkan Sayin/Shutterstock

O experimento foi conduzido em 24 mesocosmos instalados em um lago nigeriano, replicando o ambiente natural. Durante 28 dias, os cientistas observaram como o fitoplâncton reagia à exposição combinada dos medicamentos.

Os resultados mostraram efeitos variados entre as espécies, com algumas resistindo melhor que outras. “Cada espécie tem sensibilidades diferentes. Tem as que toleram até certo ponto e as que desaparecem”, afirmou Chia.

Novas pesquisas sobre o tema ainda são necessárias

Apesar dos efeitos já observados, ainda não se sabe exatamente como os analgésicos afetam a produção de pigmentos nas algas, e futuras pesquisas buscarão entender esse mecanismo.

Para os autores, a presença desses compostos na água é um sinal de alerta: “A ausência de fitoplâncton indica que algo está errado no ecossistema”, conclui o professor.

a imagem mostra várias pedras e algas no fundo do oceano
Diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol provocam queda drástica na biodiversidade aquática, mostra pesquisa (Imagem: shipfactory/Shutterstock)

O texto original foi publicado no Jornal da USP.


Leandro Costa Criscuolo

Colaboração para o Olhar Digital

Leandro Criscuolo é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Já atuou como copywriter, analista de marketing digital e gestor de redes sociais. Atualmente, escreve para o Olhar Digital.

Bruno Capozzi

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.


Postagem Relacionada

Copyright © 2024 Jornal Vertente

Jornal Vertente
Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos fornecer a melhor experiência possível ao usuário. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e desempenham funções como reconhecer você quando retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.