Um pedaço de âmbar de 99 milhões de anos revelou dois insetos fossilizados infectados com o fungo zumbi cordyceps. A presença dos parasitas dá mais detalhes sobre como eles infectavam e matavam, mas também indica que eles já estavam fazendo vítimas na época dos dinossauros.
O estudo sobre a descoberta foi publicado em junho na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.
O pedaço de âmbar tem 99 milhões anos. Ele foi obtido em mercados de Mianmar antes de 2017. Para se ter uma ideia, os dinossauros foram extintos há cerca de 66 milhões de anos. Ou seja, o fungo zumbi e os gigantes pré-históricos podem ter convivido por pelo menos 33 milhões de anos.
O âmbar preservou dois insetos em seu interior: um mosca (com o fungo saindo de sua cabeça, parecendo o formato de um cogumelo) e uma formiga jovem. Ambos estavam infectados por fungos cordyceps – que inspiraram a série The Last of Us.
As duas espécies de parasitas encontradas nos insetos eram até então desconhecidas. No caso da mosca, era o Paleoophiocordyceps ironomyiae. Já na formiga, o Paleoophiocordyceps gerontoformicae. Eles foram identificados a partir de microscópios ópticos e microtomografia computadorizada para criar imagens 3D dos insetos infectados.

Descoberta dá dicas de como o fungo zumbi vivia no passado
Algumas espécies do cordyceps são conhecidas atualmente (para além da série) por infectarem vários insetos, como aranhas, formigas e moscas. Eles são conhecidos como “fungo zumbi”, porque tomam controle do corpo do hospedeiro e o manipulam em benefício próprio.
Segundo Yuhui Zhuang, doutorando no Instituto de Paleontologia da Universidade de Yunnan e autor do estudo, em e-mail à CNN, os fósseis mostram como o fungo agia como “predador” de insetos no período Cretáceo e regulava a população de certos grupos.
No caso da formiga, o parasita pousava na cabeça do animal e entrava no cérebro através de uma área frágil do exoesqueleto. De acordo com Conrad Labandeira, cientista sênior e curador de artrópodes fósseis no Museu Smithsonian de História Natural em Washington, à CNN, por lá o fungo zumbi assume o controle do inseto.
Segundo Labandeira, que não esteve envolvido no estudo, as duas espécies Paleoophiocordyceps encontradas no fóssil provavelmente tinham mecanismos de infecção semelhantes às espécies atuais. João Araújo, coautor do estudo e curador de micologia, concorda com essa teoria. Ele acredita que o fungo zumbi preservado no âmbar é ancestral das espécies atuais.
Ainda segundo Araújo, a mosca e a formiga provavelmente foram mortos pelo parasita antes de ficarem presos na resina.

Leia mais:
Fungo zumbi revela diversidade perdida
- Phil Barden, professor associado do departamento de ciências biológicas do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, revelou que a diversidade dos parasitas foi perdida ao longo do tempo, mas eles tiveram um papel significativo na evolução do planeta;
- A descoberta do fóssil do fungo zumbi no âmbar dá dicas de como essas espécies agiam no passado;
- Zhuang destaca como o exemplar “nos dá a oportunidade de visualizar as antigas relações ecológicas preservadas nos fósseis”.