Uma análise recente de dados do Telescópio Espacial Hubble, da NASA, revelou que os lados escuros das maiores luas de Urano estão em posições diferentes do que os cientistas imaginavam. Isso é surpreendente, pois contradiz o que se esperava com base no comportamento da radiação ao redor do planeta.
As descobertas foram apresentadas durante a 246ª conferência anual da Sociedade Astronômica Americana, realizada este mês em Anchorage, Alasca. Os resultados ainda não foram publicados em um periódico científico revisado por pares, o que significa que ainda precisam passar por uma análise mais criteriosa por outros especialistas para validação.
Para quem tem pressa:
- Dados ultravioleta do Telescópio Espacial Hubble mostram brilho inesperado nos lados escuros das maiores luas de Urano;
- Algumas delas têm lados traseiros mais claros, contrariando expectativas científicas anteriores;
- Astrônomos suspeitam que isso pode ter relação com a magnetosfera do planeta;
- A nova hipótese também propõe que a poeira de impactos pode escurecer os lados dianteiros;
- Fenômeno de troca de materiais já foi visto nas luas de Saturno e Júpiter;
- O Telescópio James Webb pode ajudar a desvendar esses mistérios e confirmar oceanos subterrâneos nessas luas.
Pesquisa analisou quatro das principais luas de Urano
Liderada pelo astrônomo Richard Cartwright, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, a pesquisa focou em quatro satélites naturais de Urano: Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon. Junto com Miranda, esses corpos fazem parte do grupo das cinco maiores luas do planeta, que tem 28 confirmadas. Curiosamente, esses objetos têm nomes de personagens de William Shakespeare, sendo conhecidos como “luas literárias”.
Elas são “bloqueadas por maré”, o que significa que sempre mostram a mesma face para Urano, assim como a Lua faz com a Terra. Isso cria dois lados distintos: o dianteiro, que avança na órbita, e o traseiro, que fica atrás. A teoria anterior dizia que os lados traseiros deveriam ser mais escuros por acumularem mais radiação da magnetosfera do planeta.
Mas os dados obtidos em ultravioleta com o Hubble mostram o contrário. Nenhuma das luas apresentou o lado dianteiro mais brilhante. E em Titânia e Oberon, o lado traseiro apareceu até mais claro, contrariando a expectativa dos cientistas e colocando em dúvida as ideias anteriores sobre a influência do campo magnético de Urano.
Urano é um planeta com eixo inclinado em 98 graus, o que o faz girar quase de lado, diferente de todos os outros. Mesmo assim, suas luas orbitam ao redor do equador, cruzando a magnetosfera em um ângulo inclinado, e isso pode alterar o efeito da radiação.

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Magnetosfera do planeta pode ser mais frágil e instável do que se pensava
Além disso, os cientistas também suspeitam que a magnetosfera de Urano seja mais fraca ou mais caótica do que se pensava. Isso, conforme explicado em um comunicado, pode ser resultado de medições imprecisas feitas há 40 anos pela sonda Voyager 2.
“No momento do sobrevoo da Voyager 2, a magnetosfera de Urano estava inclinada em cerca de 59 graus em relação ao plano orbital dos satélites. Portanto, há uma inclinação adicional no campo magnético”, explicou Cartwright. Por isso, ainda não é possível concluir se os lados das luas não escurecem por causa de menos radiação ou por um campo magnético mais irregular.

Para tentar explicar o brilho inesperado, os pesquisadores propuseram a hipótese da “blindagem de poeira”. Eles acreditam que partículas geradas por impactos de meteoros tenham se acumulado nas luas e colidam com mais força nos lados dianteiros, desgastando essas regiões – como insetos batendo no para-brisa de um carro em movimento.
Segundo um dos coautores do estudo, Bryan Holler, pesquisador do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial (STScI), essa troca de materiais entre os lados das luas é algo que já foi observado nos sistemas de Júpiter e Saturno. Segundo ele, essa é uma das primeiras evidências desse tipo de fenômeno em Urano.
Outras pesquisas recentes sugerem que os satélites principais de Urano podem ter, ou já tiveram, oceanos subterrâneos. Para os autores deste novo estudo, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) pode ajudar a confirmar essa possibilidade e a revelar mais detalhes sobre os mistérios que cercam o planeta gigante e suas luas geladas.