A Nvidia, conhecida por seus chips voltados à inteligência artificial (IA), está se consolidando como uma nova força no mercado de computação em nuvem, tradicionalmente dominado por Amazon, Microsoft e Google. A movimentação da empresa acontece em um momento em que a demanda por serviços de IA cresce rapidamente, o que pode alterar o equilíbrio entre os grandes players do setor.
Desde 2022, a Nvidia oferece sua própria solução em nuvem, chamada DGX Cloud, voltada para aplicações de inteligência artificial. Paralelamente, a empresa tem investido em startups que também atuam nesse nicho, como CoreWeave e Lambda. A estratégia ainda representa uma fatia pequena do mercado total, mas especialistas apontam que o cenário pode mudar rapidamente se a procura por infraestrutura de IA continuar acelerando.
O modelo de negócio do DGX Cloud chama atenção. Numa estrutura considerada incomum, empresas como Amazon e Microsoft compram e operam os equipamentos com chips da Nvidia que sustentam o serviço. Em seguida, a Nvidia aluga esse hardware de volta e o disponibiliza a seus próprios clientes corporativos, junto com acesso a especialistas e softwares voltados para IA.

Analistas do UBS estimaram que, já em seu lançamento, o DGX Cloud poderia se tornar um negócio com potencial para gerar mais de US$ 10 bilhões por ano. A CoreWeave, uma das empresas apoiadas pela Nvidia e listada na Nasdaq desde março, projeta uma receita de cerca de US$ 5 bilhões em 2025. Esses números ainda são modestos frente à Amazon Web Services (AWS), que faturou mais de US$ 107 bilhões em 2024, mas ilustram o ritmo acelerado do crescimento dos serviços especializados em IA.
Apesar de fazerem parte da estrutura do DGX Cloud, as big techs demonstram desconforto com a situação. O Google, por exemplo, ficou de fora de um marketplace de aluguel de chips anunciado pela Nvidia em maio. A explicação, segundo Roy Illsley, analista-chefe da consultoria Omdia, é que no início da revolução da IA as empresas precisavam de soluções prontas, e a Nvidia ofereceu uma alternativa viável. “Eles ainda não tinham se organizado internamente para atender à demanda”, afirmou ao The Wall Street Journal.
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Conflitos de interesse e mudanças no setor
A ascensão da Nvidia no segmento coloca os gigantes da nuvem em uma posição delicada: por um lado, eles lucram com a parceria; por outro, ajudam a estruturar um serviço que pode se tornar um concorrente direto. Além disso, Amazon, Microsoft e Google estão desenvolvendo seus próprios chips de IA personalizados, o que pode reduzir a dependência dos produtos da Nvidia no futuro.

Apesar de afirmar que não pretende competir diretamente com os grandes provedores de nuvem, a Nvidia acumula contratos significativos. No último ano fiscal, a empresa informou ter US$ 10,9 bilhões em acordos multianuais relacionados a serviços em nuvem — um salto em relação aos US$ 3,5 bilhões do ano anterior.
A longo prazo, mesmo que a intenção declarada da Nvidia seja apenas facilitar o acesso à computação de IA, o DGX Cloud representa uma porta estratégica para expandir sua atuação e influenciar o desenvolvimento da inteligência artificial globalmente. E, conforme o setor evolui, é possível que o embate entre fornecedores de chips e provedores de nuvem se intensifique.