As últimas décadas de atividade humana desenfreada resultaram em um cenário de poluição ao redor do globo. Poluentes estão por todos os ambientes: nos mares, no ar e até nas profundezas da Terra, onde atravessaram as camadas de solo e chegaram às águas subterrâneas.
Mas, e se fosse possível filtrar essas impurezas? É isso que uma equipe de pesquisadores da Universidade de Michigan está em busca na Zona Crítica da Terra. Essa região se estende do topo das árvores até uma profundidade de 213 metros abaixo do solo e é essencial para os ecossistemas terrestres.
“Nessa zona está a maior parte da vida no planeta, pois regula processos essenciais como a formação do solo, a ciclagem da água e de nutrientes – vitais para a produção de alimentos e a saúde dos ecossistemas. Apesar de sua importância, a Zona Crítica profunda representa uma nova fronteira, pois é uma parte significativa da Terra relativamente inexplorada”, disse James Tiedje, microbiologista autor do artigo, em um comunicado.
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Uma surpresa nas profundezas
O trabalho começou no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Após escavações, os pesquisadores encontraram uma surpresa: um novo micróbio. Esse pequeno ser estava se multiplicando intensamente a cerca de 21 metros abaixo da superfície. Amostras de solo com esses organismos no estado de Iowa, nos EUA, e na China também foram analisadas.
Nomeado de Sysuimicrobiota (também chamado de CSP1-3), esse filo (grupo de seres que compartilham características) de microrganismos foi posteriormente detectado em diversos ambientes, como solos de pastagens, fontes hidrotermais e aquíferos.
A análise genética indica que os ancestrais desses micróbios vieram de ambientes aquáticos, tendo surgido em lagos de água doce e fontes termais antes de mudarem para a vida no solo.
Essa mudança sugere uma história de adaptações a diferentes ambientes. Isso torna o Sysuimicrobiota qualificado para sobreviver em locais pobres em oxigênio e nutrientes, como camadas profundas do solo.
Além de espalhados pelo mundo, a pesquisa revelou que esses pequenos seres são extremamente dominantes. Eles compreendem mais de 50% das populações microbianas em algumas comunidades.
“Acredito que isso ocorreu porque o solo profundo é um ambiente muito diferente, e esse grupo de organismos evoluiu ao longo de um grande período para se adaptar a esse ambiente de solo empobrecido”, disse Tiedje.

Micróbio atua como filtro natural
A principal propriedade do Sysuimicrobiota descoberta pelos pesquisadores é a sua habilidade de eliminar poluentes do solo profundo e purificar água. Quando a chuva penetra na terra, uma primeira camada de micróbios filtra impurezas e consome elementos essenciais, como nitrogênio e carbono.
A Sysuimicrobiota atua como um segundo filtro, evitando a passagem de poluentes restantes antes que atinjam os aquíferos profundos. É importante ressaltar que a eficácia desse segundo processo ainda não foi medida pelos pesquisadores.
“Os CSP1-3 são os catadores que limpam o que atravessou a camada superficial do solo. Eles têm um trabalho a fazer”, comentou o pesquisador.
Organismo poderá limpar aquíferos?
Em busca de compreender o funcionamento do Sysuimicrobiota, os cientistas pretendem cultivar populações em laboratório. Essa não será uma tarefa fácil — micróbios tem dificuldade em se replicar em ambientes diferentes de onde cresceram.
Agora, o grupo está testando as condições de sobrevivência desses pequenos seres em altas temperaturas. O objetivo é entender como seu corpo se adapta ao ambiente das fontes termais.
“A fisiologia do CSP1-3, impulsionada por sua bioquímica, é diferente, então pode haver alguns genes interessantes e valiosos para outros propósitos. Por exemplo, não conhecemos suas capacidades de metabolizar poluentes difíceis e, se pudéssemos descobrir isso, poderíamos ajudar a resolver um dos problemas mais urgentes da Terra”, explicou Tiedje.
Mesmo com resultados animadores, mais pesquisas são necessárias para se entender o papel desses seres na ecologia como um todo. Conforme novos estudos forem realizados, será possível planejar o uso controlado da Sysuimicrobiota para remediar águas subterrâneas. Em um mundo cada vez mais poluído, esse será um serviço essencial que humanidade poderá fazer para reparar os danos causados ao planeta.