Há mais de dois mil anos, uma lanchonete romana servia carne frita e petiscos variados nas ruas de uma cidade nos arredores de Maiorca (Espanha). Arqueólogos descobriram, num antigo poço de lixo, restos bem preservados desse que pode ser o fast food mais antigo da região.
O achado foi feito na antiga cidade romana de Pollentia. Em um poço de lixo com quatro metros de profundidade, pesquisadores encontraram milhares de ossos de animais. Entre eles, aves pequenas chamadas zorzais, que pareciam ter sido fritas inteiras. Havia também restos de coelhos, porcos, galinhas, peixes e até moluscos.
Destacado pela revista científica LiveScience, a pesquisa foi liderada pelo arqueólogo Alejandro Valenzuela, do Institut Mediterrani d’Estudis Avançats (IMEDEA), ligado à Universidade das Ilhas Baleares.
Segundo ele, o padrão dos resíduos sugere preparo e consumo rápidos. O local tinha janelas de atendimento direto na rua, como as lanchonetes modernas. E o cardápio era variado, atendendo clientes com fome e pouco tempo. Só que com azeite de oliva em vez de fritadeira elétrica.
O mistério das aves desaparecidas no cardápio romano
- Entre os milhares de ossos analisados no antigo poço de lixo de Pollentia, um detalhe chamou a atenção do arqueólogo Alejandro Valenzuela: a grande quantidade de restos de zorzais, aves semelhantes ao sabiá brasileiro;
- Mais do que qualquer outra espécie, esses pássaros dominavam os vestígios encontrados;
- Isso chamou a atenção porque, em escavações arqueológicas, os ossos frágeis dessas aves raramente se preservavam tão bem;
- Mas o que mais intrigou Valenzuela foi a ausência de certas partes. Crânios e esternos estavam por toda parte, mas quase não havia pernas, asas ou ossos da parte superior do peito. Justamente as áreas mais carnudas;
- Isso indicaria que os zorzais eram limpos e preparados em outro lugar, e o que sobrava era descartado na taberna.
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Para o pesquisador, essa ausência não é por acaso. No estudo, ele conclui que os zorzais faziam parte da dieta cotidiana da cidade romana. Eram, provavelmente, trazidos já preparados e vendidos como petisco rápido, provavelmente como o “frango a passarinho” da época. A abundância dos restos e o tipo de descarte indicam que a ave era comum, acessível e integrada à economia urbana de alimentação em Pollentia.
Como um espetinho romano virou símbolo da comida de rua
Com base nos ossos encontrados, Valenzuela acredita que as aves eram preparadas com uma técnica simples e eficiente: a remoção do esterno para achatar o peito da ave. Isso facilitava o cozimento rápido, seja na grelha ou frito em azeite. Era o tipo de preparo ideal para quem precisava servir muita gente, em pouco tempo, como numa espécie de food truck do século I.
Fragmentos de cerâmica no poço de descarte sugerem que os pratos podiam ser servidos como em uma refeição doméstica, com louça comum. Mas o pesquisador aponta outra hipótese mais prática e coerente com o ambiente de rua: os pássaros poderiam ser servidos em espetos, prontos para serem levados na mão. Uma solução simples e eficiente, digna de qualquer barraquinha de feira.
Além dos zorzais, os restos mostraram consumo expressivo de galinhas-domésticas e coelhos — carnes comuns e fáceis de criar. Tudo indica que a cidade de Pollentia tinha um sistema alimentar ágil, sazonal e urbano. Parece que a comida de rua era parte essencial da vida nas cidades romanas. E, pelo visto, o gosto por petiscos rápidos e bem temperados é um hábito que atravessa os séculos.
