Cientistas descobriram um exoplaneta do tipo “superterra” que passa apenas parte de sua órbita na zona habitável do sistema que integra – uma região onde seria possível existir água líquida e, portanto, vida. Esse novo mundo alienígena, chamado Kepler-725c, foi identificado por meio de pequenas alterações no movimento de outro planeta em torno da mesma estrela hospedeira, causadas por sua força gravitacional.
A descoberta foi divulgada na terça-feira (3) na revista Nature Astronomy. Os cientistas usaram uma técnica conhecida como variação no tempo de trânsito (TTV, na sigla em inglês), que detecta mudanças no momento em que um planeta passa na frente de sua estrela. Se algo interfere nesse ritmo, é sinal de que outro corpo está por perto, mesmo que não seja visível.
Normalmente, para detectar planetas fora do Sistema Solar, os astrônomos observam a luz de uma estrela. Quando um planeta passa na frente dela, sua luz diminui um pouco. Isso permite calcular o tamanho do planeta. O telescópio espacial Kepler, por exemplo, já descobriu milhares de mundos assim. Mas esse método funciona melhor com corpos que orbitam perto de suas estrelas e que passam com frequência na frente delas.
O problema é que, se a órbita do planeta estiver um pouco inclinada, ele não passa na frente da estrela a partir da nossa visão aqui da Terra. É aí que entra o método TTV. Quando um planeta observável sofre atrasos ou adiantamentos em seus trânsitos, é provável que a causa seja outro planeta “escondido” interferindo em sua trajetória com a gravidade.
Foi assim que os cientistas detectaram Kepler-725c. Eles estavam estudando Kepler-725b, um planeta gigante gasoso que transita em torno de uma estrela parecida com o Sol a 2.472 anos-luz daqui. Ao analisar irregularidades no trânsito desse planeta, a equipe conseguiu deduzir a massa e a órbita de um segundo planeta (o Kepler-725c), que não é visível diretamente.
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Falta de superterras no Sistema Solar dificulta entendimento sobre esse tipo de planeta
Kepler-725c é cerca de 10 vezes mais massivo que a Terra, o que o coloca na categoria das chamadas superterras. Esse tipo de planeta provavelmente é rochoso, mas com gravidade mais forte. Como não há superterras no Sistema Solar, os cientistas ainda têm muitas dúvidas sobre como esses mundos funcionam e se poderiam sustentar a vida.
A órbita do planeta Kepler-725c também é bem diferente da órbita da Terra. Enquanto a do nosso planeta é quase circular, o mundo recém-descoberto segue um caminho oval, com alta excentricidade. Isso significa que ele fica muito mais próximo da estrela em um trecho da órbita e muito mais longe em outro, o que altera bastante o calor que recebe.
Em média, Kepler-725c recebe 1,4 vez mais radiação da sua estrela do que a Terra recebe do Sol. No entanto, esse valor muda muito durante o ano do planeta, que dura 207,5 dias terrestres. Por causa disso, os cientistas acreditam que ele só é habitável durante parte do tempo, quando está na chamada zona habitável.

Como a vida existiria em um mundo nessas condições?
Se o planeta tiver atmosfera, essa variação de calor pode criar mudanças climáticas extremas. Isso levanta uma questão intrigante: seria possível alguma forma de vida sobreviver em um mundo que só está em condições adequadas por alguns meses? Por enquanto, os cientistas não sabem a resposta.
Infelizmente, como Kepler-725c não transita na frente da estrela, não será possível usar o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, para analisar sua atmosfera, já que esse equipamento depende da luz da estrela atravessando a atmosfera de um planeta para estudar sua composição.
Apesar disso, os cientistas estão otimistas. A missão PLATO, da Agência Espacial Europeia (ESA), planejada para 2026, deve detectar muito mais exoplanetas por meio de TTVs. Essa técnica pode revelar mundos mais distantes das estrelas hospedeiras – aqueles que os métodos tradicionais não conseguem captar.
Em um comunicado, o astrônomo Sun Leilei, que liderou o estudo, diz que essa descoberta mostra que a técnica TTV é poderosa para encontrar planetas pequenos em zonas habitáveis, podendo ajudar bastante na busca por vida fora da Terra. “Quanto mais mundos conhecermos, maiores são as chances de encontrarmos algum que possa, de fato, abrigar vida”.