Como moscas viciadas em cocaína podem ajudar humanos viciados

Cientistas desativaram receptores de amargor para moscas gostarem de cocaína – e isso pode ser útil para tratamentos de dependência química

(Imagens: Īriss Sviklis – Wikimedia Commons / Rescue Pest Control | montagem: Olhar Digital)

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Moscas odeiam cocaína. Por que? É muito amarga. Mas quando cientistas desativaram os receptores que detectam o gosto amargo, as moscas passaram a gostar da droga. Agora, por que fazer isso? Bem, pode parecer estranho, mas as moscas são parceiras ideais para pesquisas médicas.

É que a Drosophila, tipo de mosca usada no estudo, compartilha cerca de 75% dos genes que causam doenças em humanos.

Nas últimas décadas, ficou claro que moscas e humanos são mais parecidos do que pensávamos“, disse o autor principal da pesquisa, Adrian Rothenfluh, da Universidade de Utah, ao IFLScience.

Moscam odeiam cocaína por questões de sobrevivência, mas pesquisadores mudaram isso

As moscas evoluíram para se proteger. Ao longo de milhões de anos, esses insetos desenvolveram uma aversão natural ao sabor amargo. É um mecanismo de defesa que as ajuda a evitar substâncias que podem causar danos a elas.

Mosca em fruta
Ao longo de milhões de anos, moscas desenvolveram aversão ao sabor amargo (Imagem: nechaevkon/Shutterstock)

Quando perderam a capacidade de sentir o gosto amargo, as moscas reagiram à cocaína de forma similar aos humanos:

  • Desenvolveram gosto pela substância após 16 horas de exposição;
  • Com doses baixas, ficaram agitadas e correram de um lado para o outro;
  • Com doses altas, ficaram completamente incapacitadas.
Homem e mulher em laboratório durante pesquisa que viciou moscas em cocaína
Moscas viciadas em cocaína podem ajudar pesquisadores a desenvolver terapias melhores para humanos com dependência química (Imagem: Caitlyn Harris/University of Utah)

O objetivo dos pesquisadores é desenvolver terapias melhores para humanos viciados em cocaína. E as moscas permitem estudar essas questões muito mais rapidamente do que seria possível apenas com humanos.

Moscas e humanos são mais parecidos do que você imagina

Os pesquisadores já mostraram que os mesmos genes que regulam as respostas das moscas ao álcool estão envolvidos no vício em álcool em humanos. Agora, esperam descobrir o mesmo padrão com a cocaína.

Mosca em flor
Mosca Drosophila compartilha cerca de 75% dos genes que causam doenças em humanos (Imagem: nechaevkon/Shutterstock)

A ‘humilde’ mosca se mostra novamente um bom modelo de organismo para entender a genética e os mecanismos de distúrbios humanos”, destaca Rothenfluh.

Embora o estudo ainda não esteja no estágio de desenvolver terapias específicas, essa descoberta já oferece insights fascinantes sobre como funciona a dependência química.


Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, jornal e revista. No Olhar Digital, onde escreve sobre (quase) tudo.


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