Pela primeira vez, cientistas conseguiram observar diretamente um processo que ajuda a explicar por que Marte perdeu sua atmosfera. Os resultados do estudo foram publicados na quarta-feira (28) na revista Science Advances. Segundo os pesquisadores, esse mecanismo chamado “pulverização catódica” pode ter sido decisivo para o planeta perder o ar e a água ao longo do tempo.
Liderada pela cientista planetária Shannon Curry, da Universidade do Colorado, nos EUA, a equipe analisou dados coletados durante nove anos pela sonda MAVEN, da NASA, que orbita Marte desde 2014. Eles procuravam por sinais claros da pulverização atmosférica, um fenômeno que até então era apenas teórico.
Mars’ Thin Atmosphere
Credit: ESA/DLR/FUBerlin/AndreaLuck CC BY pic.twitter.com/KxzAk9Dcx2
— Willie Aaron Lewis (@Parsec44) May 21, 2025
Esse tipo de pulverização acontece quando partículas carregadas do vento solar, como íons, são aceleradas em direção à atmosfera de Marte. Como o planeta não possui um campo magnético forte como o da Terra, essas partículas atingem diretamente os gases atmosféricos, fazendo com que átomos e moléculas sejam lançados para o espaço.
É como se o Sol “bombardeasse” Marte com energia, arrancando pedaços da sua atmosfera. Quando isso ocorre, alguns átomos ganham energia suficiente para escapar da gravidade do planeta, sendo expulsos para o espaço. Com o tempo, esse processo contribui para o enfraquecimento da atmosfera.
Detectar esse fenômeno não é fácil. É preciso observar ao mesmo tempo o campo elétrico do vento solar, a presença de íons e os átomos neutros sendo lançados. A MAVEN é a única espaçonave com os instrumentos certos e a órbita adequada para fazer essas medições simultâneas, tanto no lado claro quanto no lado escuro de Marte.
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A equipe focou na análise do gás argônio, usado como marcador do processo. Eles descobriram que, em altitudes acima de 350 km, a quantidade de argônio muda de acordo com a orientação do campo elétrico solar. Isso indica que os isótopos mais leves estão sendo expelidos, deixando os mais pesados para trás.
Esses dados foram reforçados por observações feitas durante uma tempestade solar em 2016, quando o efeito da pulverização se intensificou. Os cientistas concluíram que o processo é mais ativo do que se imaginava e pode ter sido um dos principais motivos para Marte ter se tornado um planeta seco, frio e com atmosfera rarefeita.