Tudo sobre Artemis
Uma antiga cratera na Lua pode conter pistas sobre as camadas profundas e o passado geológico do nosso satélite natural. Localizada no polo sul, a Bacia do Polo Sul-Aitken (SPA) tem cerca de 2.500 km de diâmetro e foi formada por um impacto violento há aproximadamente 4,3 bilhões de anos.
Cientistas acreditam que esse choque perfurou a crosta lunar e expôs o material do manto, camada abaixo da superfície. Também há sinais de um antigo oceano de magma em processo de cristalização, que pode ter sido atingido diretamente.

A descoberta foi apresentada pelo geofísico Jeff Andrews-Hanna, da Universidade do Arizona, durante uma conferência nos EUA. Segundo o site Space.com, ele disse na ocasião que a cratera oferece a chance rara de estudar material primordial da Lua.
A hipótese poderá ser testada por futuras missões lunares, como as do Programa Artemis, da NASA, que deve levar astronautas ao polo sul da Lua até 2027. O objetivo é coletar amostras e trazê-las à Terra para análises mais detalhadas.
Trajetória do impacto surpreende cientistas
Ao estudar a forma da cratera, os pesquisadores perceberam que ela não é perfeitamente circular, mas ligeiramente alongada. Isso indica que o objeto colidiu em um ângulo oblíquo, provavelmente vindo do sul.
Essa direção do impacto contraria teorias anteriores, que sugeriam uma trajetória do norte para o sul. A forma alongada da bacia e a distribuição de material ao redor foram as pistas principais para essa nova interpretação.
No lado norte da cratera, há acúmulo de crosta mais espessa, o que pode indicar que o material foi empurrado naquela direção após o choque. No entanto, os cientistas focaram na forma geral da cratera para entender o movimento original.
A descoberta exigiu uma nova forma de olhar para dados já existentes. Segundo Andrews-Hanna, a interpretação anterior não levava em conta a geometria total da bacia.

Lua teve um oceano de magma
Logo após sua formação, a Lua passou por um período em que estava quase toda derretida. Esse “oceano de magma” cobria grande parte do satélite e começou a se solidificar com o tempo.
Os minerais mais leves, como o plagioclásio, flutuaram e formaram a crosta. Já os mais pesados afundaram, formando o manto e o núcleo. O restante do magma, rico em elementos como potássio, fósforo e tório, ficou concentrado no meio.
Esses elementos, chamados de KREEP (contração das siglas), são importantes para entender como a Lua se formou. O impacto que criou a SPA pode ter trazido parte desse material à superfície.
Observações anteriores já haviam detectado tório na região da cratera, o que reforça a ideia de que o impacto expôs camadas internas da Lua.
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Vestígios do manto podem estar acessíveis
A nova análise identificou um trecho rico em tório no sudoeste da bacia. Isso sugere que parte do material do oceano de magma pode ter escorrido pela crosta rachada e ficado exposto.
Os cientistas compararam esse achado com outra região lunar chamada Terreno Procellarum KREEP (PKT), também rica em elementos do manto. Antes se pensava que a SPA havia empurrado material para formar o PKT. Agora, a hipótese é que o PKT surgiu depois, enquanto a SPA revelou uma parte mais antiga da Lua. Isso altera a sequência dos eventos geológicos do satélite.
Amostras do PKT já foram trazidas por missões como as Apollo e a Chang’e 5. Em 2024, a missão chinesa Chang’e 6 retornou com material da própria bacia do Polo Sul-Aitken.
Artemis III pode resolver o mistério
A missão Artemis III, da NASA, tem como destino justamente o polo sul lunar. Se astronautas conseguirem coletar rochas da região da SPA, será possível determinar sua idade exata.
Isso ajudará a saber quando o oceano de magma existiu e por quanto tempo durou sua cristalização. Segundo os pesquisadores, essas informações são essenciais para entender a história da Lua.
O impacto que criou a bacia SPA pode ter sido um dos últimos eventos importantes no resfriamento do satélite. Ao datar esse momento, os cientistas poderão montar um retrato mais completo do passado lunar. “Esperamos que essas amostras confirmem a idade da bacia”, disse Andrews-Hanna. “Isso nos dirá quando o oceano de magma chegou ao fim”.