Tudo sobre ChatGPT

Tudo sobre OpenAI
“Eles desafiaram Altman, e Altman venceu.” É assim que a jornalista Karen Hao resume o drama na trajetória da OpenAI. Ela passou quase dois anos mergulhada na história do CEO Sam Altman e da sua startup, desenvolvedora do ChatGPT, para escrever o livro Empire of AI.
Em tradução livre, o título e subtítulo do livro são “Império da IA: Por dentro da corrida imprudente pela dominação total“. Lançada na terça-feira (20), a obra explora a ascensão da OpenAI e as implicações da corrida pela inteligência artificial (IA). Por ora, o livro não foi publicado em português.
Sam Altman é intocável? Autora de livro sobre OpenAI fala do CEO
Após o drama da demissão e readmissão ao cargo de CEO da OpenAI, em 2023, Sam Altman se tornou intocável? “Certamente ele consolidou seu poder“, diz Karen, em entrevista ao jornal The Guardian. Para a jornalista, o conselho atual está “muito mais alinhado com os interesses dele [Altman]”.

O grupo de personagens na história da OpenAI tem mentes brilhantes e, muitas vezes, excêntricas. Afinal, estamos falando de uma startup cofundada por Elon Musk. No centro dela, está o carismático Altman, outro cofundador e atual CEO.
Ao longo dos quase dois anos que Karen levou para escrever seu livro, Altman parece ter superado seus opositores. E anunciou planos para angariar US$ 7 trilhões (quase R$ 40 trilhões) em investimentos. A autora descreve Altman como “um talento de uma geração” na “arrecadação de fundos”.
“Ele convence as pessoas a cederem poder a ele, não o toma à força”, diz Karen. “A razão pela qual consegue fazer isso é porque é incrivelmente bom em entender o que as pessoas querem e o que as motiva.”
Sam Altman: carismático e implacável
A jornalista vai além: “É também por isso que ele conseguiu fazer algo que a maioria das pessoas não conseguiria, que é fazer o público acreditar na ideia de que ele está fazendo algo profundamente bom para a sociedade – tempo suficiente para conseguir se safar.”

Dentro da OpenAI, “todas as pessoas que já entraram em conflito com ele sobre sua visão de desenvolvimento da IA saíram”, aponta a jornalista. “Musk saiu, Dario Amodei saiu, Sutskever saiu [eles foram os primeiros líderes da OpenAI]”.
No fim das contas, eles tinham uma ideia diferente de como a IA deveria ser desenvolvida. Eles desafiaram Altman, e Altman venceu.
Karen Hao, jornalista e autora do livro Empire of AI, em entrevista ao jornal The Guardian
‘Precisamos ser céticos’
A irmã de Altman, Annie, “é um estudo de caso perfeito de por que precisamos ser céticos em relação ao que Sam Altman diz sobre os benefícios da IA“, diz a autora do livro.
Altman defende que a IA vai resolver a pobreza e melhorar o sistema de saúde. Mas Annie, que vive na pobreza e tem problemas de saúde, não viu nenhum desses benefícios, aponta Karen.

Dose de contexto:
- Em 2021, Annie alegou que Altman havia abusado sexualmente dela quando criança (ele é nove anos mais velho);
- Em janeiro de 2025, ela o processou;
- Em comunicado divulgado por Altman, sua mãe e seus dois irmãos (o pai morreu em 2018), as alegações foram descritas como “totalmente falsas”.
A OpenAI tinha concordado em conversar com Karen para o seu livro. Mas desistiu após descobrir que ela também conversava com Annie.
“Por que um representante da empresa tornou isso sua principal preocupação?”, questiona a jornalista. “Isso me mostrou o quanto Sam, o homem, é importante para a empresa.”
Lançamento do ChatGPT afetou (muito) o desenvolvimento de IA, segundo autora
Quando o assunto é IA, dá para organizar a história em a.C e d.C – antes do ChatGPT e depois do ChatGPT.
Durante parte do período a.C, Karen escreveu para a revista MIT Technology Review. Daí seu fascínio por IA, inclusive. “Eu passava praticamente todo o meu tempo conversando com pesquisadores dentro de empresas que operavam em ambientes semelhantes ao acadêmico” (leia-se: sem objetivos comerciais).

Além da “grande diversidade de pesquisas acontecendo”, surgia “uma linha de pesquisa sobre IA e seu impacto na sociedade”. Nesta época (por volta de 2016), se discutia, por exemplo:
- Quais são os danos?
- Quais são os vieses incorporados nos modelos que podem levar a uma discriminação generalizada e a questões de direitos civis?
Era mais ou menos aí que o mundo da IA e o debate estavam antes de serem desviados pelo ChatGPT.
Karen Hao, jornalista e autora do livro Empire of AI, em entrevista ao jornal The Guardian
Poucos dias após o lançamento do ChatGPT, no final de 2022, a plataforma já tinha um milhão de usuários. Em poucos meses, atingiu 100 milhões de usuários. E se tornou o aplicativo de consumo com crescimento mais rápido da história.

A jornalista teve a impressão de que o sucesso do ChatGPT ofuscou debates saudáveis sobre IA, ao menos no mainstream. “As pessoas simplesmente compraram o que a OpenAI e outras empresas entregavam de bandeja em termos de narrativa”, diz a autora.
- Que narrativa? “Isso vai curar o câncer, isso vai resolver a crise climática, todas essas coisas utópicas com as quais nem se pode sonhar”, aponta Karen.
Então, a jornalista começou a trabalhar no que se tornaria seu livro, analisando a história da OpenAI e de seus concorrentes. “Só quando você tem esse contexto é que pode começar a entender que o que essas empresas dizem não deve ser aceito ao pé da letra.”
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Império da IA
A premissa do livro de Karen Hao é: os gigantes da IA comandam um império. Mas a história nos mostra que impérios não só podem cair como, de fato, caem. E a autora vê cada elo do supply chain como um possível ponto de resistência.

Artistas e escritores, por exemplo, têm reagido contra o uso de suas obras para treinar modelos de IA generativa. Aplicar leis de privacidade de dados “também é uma forma de conter o império”, assim como forçar as empresas a serem transparentes quanto ao impacto ambiental dessas plataformas.
- O impacto ambiental do boom da IA generativa vai desde o consumo de energia até onde e como os minerais necessários para o hardware são extraídos.
As empresas de tecnologia “querem que suas ferramentas pareçam mágicas”, aponta a autora. Mas ela gostaria de ver mais educação pública para as pessoas perceberem que cada comando dado numa plataforma de IA consome recursos e energia.
Pressionar esses e outros pontos “pode nos levar, pouco a pouco, de volta a um modelo mais democrático de governança da IA“, diz a autora.