Em 1972, a antiga União Soviética lançou uma espaçonave chamada Kosmos 482 com destino a Vênus. A missão fazia parte do ambicioso programa Venera, criado para estudar o planeta vizinho da Terra. Das 29 sondas enviadas ao longo de 22 anos, apenas 16 conseguiram chegar ao destino correto.
Muitas das espaçonaves que falharam ficaram presas na órbita da Terra. Algumas caíram de volta no mesmo ano em que foram lançadas. A Kosmos 482, no entanto, levou mais de cinco décadas para retornar. Após 53 anos, ela finalmente reentrou na atmosfera da Terra no último sábado (10), de forma descontrolada.
A espaçonave foi vista pela última vez sobrevoando a Alemanha às 3h04 (pelo horário de Brasília), segundo a Agência Espacial Europeia (ESA). Pouco tempo depois, desapareceu do radar, sugerindo que caiu entre 3h04 e 4h32. Acredita-se que ela tenha mergulhado no Oceano Índico, a oeste de Jacarta, na Indonésia, embora o local exato ainda seja desconhecido.
Imagens feitas por radar mostram a sonda girando no espaço pouco antes da reentrada. Esses registros da queda da Kosmos 482 provavelmente são os únicos. Até agora, não há relatos de que alguém tenha visto o evento a olho nu nem de que restos tenham sido encontrados no solo.
On 10 May 2025, the Cosmos-482 descent craft reentered Earth’s atmosphere after 53 years in orbit. It was designed to land on Venus, but it never escaped Earth’s gravity.
Image credit: @Fraunhofer_FHR pic.twitter.com/JKas0uMSP5
— ESA Operations (@esaoperations) May 13, 2025
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Vênus, o destino original da sonda, é um planeta extremamente hostil. Sua temperatura média é de 464°C, com pressão atmosférica 92 vezes maior que a da Terra e chuva de ácido sulfúrico. Por isso, as sondas enviadas até lá precisam ser muito resistentes.
A Kosmos 482 foi construída para suportar essas condições. Sendo assim, havia a chance de que ela sobrevivesse, ao menos em parte, à queda na Terra.
O caso levanta um alerta sobre o lixo espacial. Ao longo de anos, a Terra é cercada por restos de satélites, foguetes e sondas antigas. Hoje, especialistas defendem que espaçonaves devem ser planejadas para se desintegrar completamente ao reentrar na atmosfera.
Essa ideia ainda não é adotada por todos os fabricantes. Muitos equipamentos continuam sendo enviados ao espaço sem esse cuidado. Mesmo quando queimam na reentrada, podem liberar gases prejudiciais à camada de ozônio da Terra.
O retorno da Kosmos 482 foi tranquilo, mas serve como aviso. O espaço ao redor da Terra está ficando lotado e mal gerido. Se nada mudar, o risco de acidentes pode aumentar nos próximos anos.