O físico Richard L. Garwin, considerado o projetista da primeira bomba de hidrogênio dos Estados Unidos, morreu na última terça-feira (13), aos 97 anos, em sua casa em Scarsdale, Nova York. A morte foi confirmada por seu filho, Thomas ao New York Times.
Garwin teve uma carreira marcada por contribuições decisivas tanto no setor militar quanto no desenvolvimento tecnológico e científico. Aos 23 anos, ele desenhou o primeiro dispositivo termonuclear funcional, usando os conceitos teóricos de Edward Teller e Stanislaw Ulam. Apesar de ter permanecido por décadas fora do conhecimento público, seu papel foi essencial para os testes bem-sucedidos da chamada bomba H, em 1952.
Projeto da bomba H e reconhecimento tardio
Durante os anos de 1951 e 1952, Garwin atuava como consultor de verão no Laboratório Nacional de Los Alamos, enquanto lecionava na Universidade de Chicago. Foi nesse período que ele criou o design da primeira bomba de fusão nuclear, baseada nas ideias teóricas já existentes, mas ainda não comprovadas.
O dispositivo experimental, batizado de Ivy Mike, foi testado no atol de Enewetak, nas Ilhas Marshall. Ele pesava 82 toneladas e se assemelhava mais a um imenso recipiente térmico do que a uma bomba convencional. Ainda assim, sua explosão foi devastadora: uma bola de fogo de três quilômetros de diâmetro e potência 700 vezes maior do que a bomba lançada em Hiroshima.
Mesmo com a magnitude do feito, Garwin permaneceu fora dos holofotes por muito tempo. Foi apenas em 1981 que Edward Teller reconheceu publicamente sua importância no desenvolvimento do projeto. “O disparo foi feito quase exatamente de acordo com o projeto de Garwin”, disse Teller.
Transição para a tecnologia e décadas na IBM
Após o sucesso com a bomba H, Garwin optou por não seguir carreira acadêmica. Em vez disso, aceitou uma proposta da IBM, onde permaneceu por quatro décadas. No laboratório Thomas J. Watson, da IBM, Garwin trabalhou em uma ampla gama de pesquisas que resultaram em avanços importantes nas áreas de computação, comunicação e medicina.
Entre as inovações em que teve papel central estão o desenvolvimento da ressonância magnética, das impressoras a laser de alta velocidade e das telas sensíveis ao toque. Mesmo após sua aposentadoria, ele continuou atuando como consultor do governo em questões de segurança nacional e armamentos nucleares.

Atuação política e defesa do equilíbrio estratégico
Garwin foi conselheiro científico de diversos presidentes dos EUA, de Dwight Eisenhower a Bill Clinton. Ele se posicionava frequentemente contra projetos militares considerados ineficazes, como o sistema de defesa espacial proposto por Ronald Reagan, conhecido como “Guerra nas Estrelas”.
Defensor do conceito de destruição mútua assegurada, Garwin acreditava que o equilíbrio entre as potências nucleares era essencial para a paz. Em 2021, já aos 93 anos, ele assinou uma carta junto com outros cientistas pedindo ao presidente Joe Biden que os EUA se comprometessem a não usar armas nucleares de forma preventiva. A proposta também pedia que o presidente não tivesse autoridade exclusiva sobre o uso desses armamentos.
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Uma mente inquieta desde a infância
Nascido em 1928, em Cleveland, Garwin demonstrou desde cedo habilidades incomuns. Chamado de “gênio” por Enrico Fermi, com quem fez doutorado, era conhecido por sua mente multifacetada, capaz de transitar com naturalidade entre temas como física nuclear, geopolítica, engenharia e computação.
Mesmo diante de críticas e embates com o setor militar, Garwin nunca deixou de expressar sua convicção sobre o papel dissuasório das armas nucleares. “A única utilidade das armas nucleares é a destruição em massa — e, por essa ameaça, evitar um ataque nuclear”, afirmou à revista Quest em 1981.