Vários animais brilham no escuro, como camaleões, sapos e peixes. Um estudo de 2023 revelou algo impressionante: alguns mamíferos também têm essa característica. O motivo para isso? Ninguém sabia… até agora.
Um estudo publicado no final de abril na revista PLOS ONE analisou mamíferos atropelados na Austrália e fez revelações sobre os mecanismos que os fazem ‘brilhar’.
Mamíferos que brilham no escuro eram mistério para ciência
Alguns animais apresentam bioluminescência, na qual um brilho é produzido de forma ativa pelo organismo. É o caso dos vagalumes.
A biofluorescência é diferente. Como explicou o Science Alert, trata-se de um tipo de incandescência biológica que a luz é absorvida e reemitida em comprimentos de onda diferentes, atráves de moléculas chamadas luminóforos. Animais como camaleões, peixes, sapos e tartarugas marinhas têm essa propridade. Proteínas como queratina e colágeno permitem esse brilho.
Em 2020, cientistas apontaram uma luz ultravioleta para uma espécie de ornitorrico empalhado. Eles tiveram uma supresa: o pelo do animal brilhou mais do que o esperado para a queratina. O experimento foi repetido em outras espécies de mamíferos australianos, como o vombate. No total, foram 125 espécies de mamíferos analisados com o mesmo resultado: eles brilham no escuro.
Só tinha um porém: os pesquisadores não sabiam como isso acontecia.
Vantagem evolutiva ou acidente?
Descobrir como os mamíferos fluorescem ajuda a entender a evolução desses animais. Seria o ‘brilho no escuro’ uma vantagem evolutiva ou um acidente?
A equipe liderada pela zoóloga Linda Reinhold, da Universidade James Cook (Austrália), resolveu investigar a fundo. Para isso, eles usaram cromatografia líquida de alta eficiência e espectrometria de massas por ionização por eletrospray, um processo que envolve a separação das moléculas da amostra em um líquido e um gás.
No entanto, essa técnica é destrutiva para as amostras (no caso, os animais), mesmo aqueles empalhados em museus. Então, a equipe optou pela análise do pelo de exemplares atropelados, cortando o pelo dos animais mortos encontrados na beira de estradas. Foram seis deles.

Alguns deles foram um bandicoot de nariz longo (ou nariz comprido) e um bandicoot marrom do norte (espécies parecidas com ratos). Ambos apresentaram fotoluminescência forte, com cores rosa, amarela, azul e branca (ou mais de uma ao mesmo tempo). A equipe prosseguiu para descobrir se os luminóforos presentes no pelo desses animais era comum a outros mamíferos.
Eles compararam os resultados dos dois bandicoots com quolls do norte (uma espécie de marsupial australiano), gambá de cauda de escova acobreada, canguru-arborícola de Lumholtz, rato-do-campo-pálido e ornitorrinco. Eles brilham no escuro de formas diferentes e têm luminóforos distintos, mas a análise descobriu que todos têm pelo menos um luminóforo em comum, a protoporfirina.

O que isso significa?
- Os cientistas acreditam que há uma razão para o brilho no escuro, mas eles ainda não sabem dizer qual;
- Eles supõem que seja algo relacionado ao estilo de vida crepuscular de alguns desses mamíferos, ou para que eles possam se reconhecer em condições de pouca luz;
- Ou, ainda, pode ser apenas um acidente evolutivo sem nenhum propósito. Nesse caso, se a característica não é um perigo para a sobrevivência e elimina os animais, ela pode persistir através da evolução.
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De acordo com a equipe em comunicado, esta “é a primeira análise química de luminóforos que contribuem para a fotoluminescência na pele de mamíferos australianos desde que dois metabólitos do triptofano foram identificados há mais de 50 anos”.