Como funciona o Kisunla, novo tratamento para Alzheimer?

A doença de Alzheimer afeta milhões de pessoas em todo o mundo e representa hoje um dos maiores desafios da medicina moderna.

Estima-se que mais de 55 milhões de pessoas vivam com demência globalmente, sendo o Alzheimer responsável por cerca de 60% a 70% desses casos, segundo a Organização Mundial da Saúde.

As projeções são ainda mais preocupantes: até o final desta década, o número de pacientes pode ultrapassar os 78 milhões, impulsionado pelo envelhecimento da população e pela maior expectativa de vida.

Embora ainda não exista cura para a doença, avanços recentes no campo da neurologia têm apontado novas possibilidades de tratamento. Entre elas, um novo medicamento aprovado pela Anvisa promete desacelerar a progressão dos sintomas nos estágios iniciais da doença, oferecendo mais tempo de autonomia e qualidade de vida para os pacientes e suas famílias.

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O que é a doença de Alzheimer?

A doença de Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva que afeta a estrutura e o funcionamento do cérebro, sendo a causa mais comum de demência em idosos.

Ela foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, ao observar alterações patológicas no cérebro de uma paciente que apresentava perda grave de memória, confusão e mudanças comportamentais.

Custo nacional de cuidar de pessoas com Alzheimer e outras demências deve chegar a US$ 384 bilhões em 2025 (Imagem: peakSTOCK/iStock)

Entre os principais marcadores da doença estão o acúmulo de placas de beta-amiloide entre os neurônios e a formação de emaranhados neurofibrilares da proteína tau dentro das células nervosas. Esses depósitos afetam a comunicação entre os neurônios, levam à inflamação crônica do tecido cerebral e resultam, ao longo do tempo, na morte celular e perda de massa encefálica.

A progressão da doença compromete gradativamente a memória, a linguagem, a orientação espacial, o raciocínio e, nos estágios finais, funções motoras e autonômicas. Embora os sintomas comecem de forma sutil, como esquecimentos leves, a evolução é inevitável e irreversível.

Não existe cura para o Alzheimer, e até recentemente os tratamentos disponíveis se limitavam a aliviar sintomas. Por isso, o desenvolvimento de terapias que atuam na causa da doença representa um avanço significativo na abordagem clínica da condição.

Como funciona o donanemabe, princípio ativo do Kisunla?

O Kisunla tem como princípio ativo o donanemabe, um anticorpo monoclonal que atua diretamente nas placas de beta-amiloide, um dos principais componentes associados à doença de Alzheimer. O donanemabe se liga a uma forma específica dessa proteína, chamada beta-amiloide piroglutamato, e estimula sua remoção pelo sistema imunológico.

Com isso, há uma redução da carga amiloide no cérebro e, consequentemente, um possível retardamento da progressão dos sintomas. Essa ação é voltada especificamente para pessoas nos estágios iniciais da doença, incluindo aquelas com comprometimento cognitivo leve e demência leve.

Comparação de cérebro de pessoa saudável com o de uma pessoa com Alzheimer
Esta imagem compara um cérebro normal com um cérebro afetado pela Doença de Alzheimer. No lado esquerdo, o cérebro saudável apresenta um córtex cerebral normal e um hipocampo preservado. No lado direito, o cérebro com Alzheimer mostra atrofia do córtex cerebral, aumento dos ventrículos e redução do hipocampo. A ampliação à direita destaca duas das principais características microscópicas da doença: as placas de beta-amiloide e os emaranhados neurofibrilares, que comprometem a função dos neurônios. Imagem: ttsz / iStock

O medicamento é administrado por infusão intravenosa mensal, sob prescrição e acompanhamento médico, e exige exames prévios que confirmem a presença de placas amiloides no cérebro por meio de imagem cerebral.

A eficácia foi demonstrada em estudos clínicos de fase 3, que indicaram resultados positivos na redução do declínio cognitivo em pacientes com baixa carga de proteína tau, outro marcador da doença.

O Kisunla não é recomendado para pacientes com Alzheimer em estágio moderado ou avançado. Também possui contraindicações específicas, como para pessoas com predisposição genética ao acúmulo de amiloide. Em particular, indivíduos homozigotos para o gene APOE4 apresentaram maior risco de reações adversas, como inchaço cerebral e micro-hemorragias, conhecidas como anormalidades por imagem associadas à amiloide (ARIA).

Outros efeitos adversos incluem reações no local da infusão, febre, sintomas gripais e dor de cabeça. Por se tratar de um anticorpo monoclonal, o tratamento deve ser feito com acompanhamento constante, incluindo exames de imagem regulares para monitoramento de possíveis efeitos colaterais.

Quanto custa o novo tratamento para Alzheimer?

Atualmente, o Kisunla ainda não está disponível comercialmente no Brasil e não tem preço definido pela Anvisa. Nos Estados Unidos, onde já foi aprovado anteriormente, o custo estimado de um ano de tratamento é de cerca de 32 mil dólares, o que equivale a mais de 160 mil reais por ano na cotação atual.

Como o medicamento exige monitoramento com exames complexos e infusões intravenosas mensais, o custo total do tratamento pode ser ainda maior se considerados os custos clínicos associados.

Ilustração 3D do sistema nervoso do cérebro humano, destacando os nervos parassimpáticos e simpáticos. / Crédito: Life Science (Shutterstock/Reprodução)

Ainda não há previsão para que o Kisunla seja incorporado ao Sistema Único de Saúde. A experiência com a memantina, último medicamento para Alzheimer aprovado pela Anvisa em 2011, mostra que a incorporação ao SUS pode levar anos, mesmo em casos de fármacos com custo mais acessível e menor demanda de exames. Por isso, o acesso ao Kisunla no Brasil dependerá de avaliações futuras sobre seu custo-benefício, impacto no sistema de saúde pública e negociação com o Ministério da Saúde.

Enquanto isso, pacientes brasileiros com Alzheimer seguem tendo acesso gratuito a medicamentos como a rivastigmina, galantamina e memantina, que são distribuídos pelo SUS. Esses medicamentos atuam principalmente sobre os neurotransmissores, ajudando a controlar os sintomas, mas sem interferir diretamente na progressão da doença.

Além disso, estratégias não farmacológicas, como acompanhamento psicológico, estimulação cognitiva e apoio familiar, continuam sendo pilares fundamentais no tratamento e na qualidade de vida dos pacientes.

Com informações de Anvisa.

As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.

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