Especialistas de diferentes áreas concordam que os smartphones afetam o nosso cérebro. O uso excessivo pode levar a problemas como dificuldade de concentração, menor capacidade de aprendizado e memória, além de atrapalhar nossa inteligência emocional.
A situação é ainda mais grave para crianças e adolescentes. O livro “A geração ansiosa”, do psicólogo Jonathan Haidt, aponta que a depressão e a ansiedade entre adolescentes nos EUA aumentaram mais de 50% entre 2010 e 2019. Houve também um salto de 131% na taxa de suicídio entre meninas de 10 a 14 anos no mesmo período.
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Diante desses dados, governos do mundo todo passaram a proibir ou restringir o uso de celulares nas escolas. É o caso da Dinamarca e aqui do Brasil. Na Austrália, os legisladores foram além e baniram as redes sociais para os menores de 16 anos.
Um dos casos mais ambiciosos, porém, foi registrado numa pequena cidade do Reino Unido. St. Albans, a 37 quilômetros do centro de Londres, articulou um plano para que os pais não dessem esses aparelhos para jovens com menos de 14 anos. Um ano depois, a iniciativa vem se mostrando bem-sucedida.
Projeto começou em uma escola
- Segundo informa uma reportagem do britânico The Guardian, a ideia partiu de Matthew Tavender, diretor da escola Cunningham Hill.
- Ele coordenou a ação com diretores de outras escolas primárias da cidade.
- Em seguida, enviaram uma carta conjunta aos pais e responsáveis.
- Argumentaram que a natureza altamente viciante dos smartphones estava tendo um efeito duradouro no cérebro das crianças e que os dispositivos estavam roubando a infância delas.
- St. Albans ainda está longe de se tornar uma cidade na qual os jovens não possuem celular.
- A iniciativa, porém, já surtiu efeito.
- Em dezembro de 2023, quando Tavender realizou uma pesquisa com seus alunos do 6º ano (de 10 a 11 anos), 45 dos 60 alunos já possuíam smartphones – ou seja, 75% deles.
- Um ano depois, esse número caiu para apenas 7 (o equivalente a 12%).
- Uma queda igualmente acentuada foi observada por diretores de outras escolas da cidade.
Infância perdida
Matthew Tavender disse que tomou a iniciativa depois de um escândalo que ocorreu no seu colégio. A foto de um aluno nu vazou e começou a se espalhar pelos celulares de todos os outros estudantes. O diretor emitiu, então, um comunicado e pediu aos pais que olhassem os celulares dos filhos – e que apagassem a imagem.

Além desse caso pontual, Tavender alega que as crianças estavam tendo comportamentos mais destrutivos com elas mesmas. Ele notou, por exemplo, mais preocupações com a imagem corporal, alunos monitorando passos e falando sobre aplicativos de contagem de calorias. E gostando menos dos próprios corpos.
Ele também estava preocupado com a diminuição da concentração e com as respostas mais atravessadas de alguns estudantes:
“Recebemos muito mais ‘nãos’. Se uma criança está jogando, ela pode desligar e começar de novo se não ganhar. Se ela está assistindo a algo no YouTube e não gosta, ela passa para outra coisa. Ela está acostumada a receber feedback imediato, geralmente positivo, e se não entender, pode simplesmente deslizar e seguir em frente. Estamos vendo crianças com menos resiliência a coisas que não querem fazer”, afirmou o diretor.
E deu certo?
Tavender não falou se houve uma melhora no desempenho escolar dessas crianças e adolescentes. O Guardian, no entanto, ouviu algumas famílias, que relataram uma melhora no comportamento.
Sabe aquela história de crianças sendo crianças? É mais ou menos isso, com mais atividades físicas e lúdicas e menos tempo em frente a uma tela.

É claro que muitos adolescentes continuam tendo celulares em St. Albans. E os que não têm, reclamam com os pais. Nesse aspecto, Tavender criticou as escolas de Ensino Médio, que não aderiram ao seu projeto.
Ele diz entender os pais que estão preocupados com a segurança e o bem-estar dos filhos, mas argumentou que eles poderiam dar modelos mais antigos, os famosos tijolões sem acesso à internet. Os filhos ficariam comunicáveis do mesmo jeito – e sem essa ultra exposição às redes sociais.
Você pode ler mais sobre a iniciativa na página oficial do manifesto Smartphone Free Childhood.
As informações são do The Guardian.