Imagine um país com luz solar abundante, ventos constantes e rios caudalosos – um verdadeiro paraíso para energias renováveis. Esse é o Brasil, que já conta com mais de 80% de sua matriz elétrica proveniente de fontes limpas, como hidrelétricas, eólicas e solares.
Por isso, os recentes movimentos que indicam um possível retorno às fontes fósseis parecem destoar desse cenário favorável às energias alternativas.
Em janeiro de 2025, o presidente Lula vetou a parte do Projeto de Lei 576/2021 que obrigava a contratação de termelétricas a carvão mineral até 2050.
Ainda assim, em abril, o assunto voltou à tona com o cancelamento do Leilão de Reserva de Potência de 2025, promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Conforme destaca a revista The Conversation, 327 projetos fizeram lances para fornecer energia de reserva, sendo que 97% deles envolvem termelétricas a gás e carvão, que são mais caras e poluentes.
Termelétricas no banco de reservas: o plano B que custa caro ao Brasil
Pense na energia de reserva como um extintor de incêndio: você espera nunca usar, mas precisa ter à mão. No setor elétrico, ela serve para cobrir falhas, apagões ou picos de consumo. Para garantir essa “energia de emergência”, o governo promove leilões que escolhem quem estará de prontidão. E adivinhe: são quase sempre as termelétricas que vencem.
Nos leilões de potência de reserva, usinas térmicas levam vantagem. Elas são vistas como confiáveis e flexíveis, prontas para ligar em minutos. Em um dos certames mais recentes, 97% da capacidade cadastrada era de termelétricas. Hidrelétricas representaram apenas 3%. É uma aposta clara em soluções rápidas, mas nem sempre sustentáveis.
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O problema é que esse “seguro energético” tem um preço alto. Termelétricas consomem muito combustível, poluem mais e encarecem a conta de luz. É como garantir estabilidade com uma mochila cheia de tijolos: funciona, mas há formas mais leves e inteligentes de se preparar para emergências.
Dá pra fazer diferente e melhor
A boa notícia é que o Brasil não precisa escolher entre apagões e fumaça. Existem, atualmente, caminhos viáveis para substituir a dependência das termelétricas por alternativas mais limpas, econômicas e eficientes. Uma dessas opções é o investimento em programas robustos de eficiência energética. Por meio deles, é possível reduzir o consumo sem comprometer o conforto ou a produtividade.

Além disso, soluções híbridas ganham destaque. Ao combinar fontes como solar, eólica e hídrica em uma mesma usina, é possível compensar a intermitência natural de cada uma delas. Essa integração torna a geração mais estável e otimiza o uso da infraestrutura já existente.
Também é possível transformar o velho em novo. Térmicas a gás podem ser adaptadas para funcionar com biomassa, aproveitando resíduos agrícolas que antes iam para o lixo. E com políticas públicas certas – redes inteligentes, geração distribuída, estímulo à inovação – o Brasil pode descentralizar sua energia e dar mais autonomia ao consumidor. O futuro da eletricidade já está ao nosso alcance. Só falta ligar o interruptor certo.