Brasil pode ser atingido por espaçonave de meia tonelada

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, uma espaçonave lançada pela União Soviética em 1972 está prestes a reentrar na atmosfera terrestre nas próximas semanas – e o Brasil está inteiramente dentro da área de possível impacto. 

Chamado Kosmos 482, o equipamento fazia parte de uma missão que pretendia explorar Vênus, mas um problema nos motores impediu que a nave deixasse a órbita da Terra. Desde então, ela está presa em uma trajetória elíptica, circulando o planeta por mais de cinco décadas.

Representação artística elaborada com Inteligência Artificial da espaçonave Kosmos 482 caindo na Terra. Crédito: Marcelo Zurita

Na sexta-feira (25), em entrevista ao programa Olhar Digital News, o astrônomo Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), explicou que, atualmente, a nave perde altitude gradativamente, o que deve levá-la à reentrada em breve.

Pesando cerca de meia tonelada, o objeto foi projetado para resistir às condições extremas de Vênus, o que aumenta suas chances de chegar intacto ao solo.

Kosmos 482 perde altitude e pode cair a qualquer momento

Segundo Zurita, o Kosmos 482 teve falha nos motores que deveriam impulsioná-lo rumo a Vênus, permanecendo preso em uma órbita elíptica da Terra. “A espaçonave estava em uma órbita que variava de aproximadamente 200 km no perigeu a 780 quilômetros no apogeu”, disse o especialista, referindo-se, respectivamente, ao ponto mais próximo e ao mais distante do planeta. “Mesmo nas altitudes mais altas, ainda há gases atmosféricos suficientes para reduzir a velocidade do objeto ao longo do tempo”.

Essa diminuição contínua de velocidade faz com que o módulo perca altitude, acelerando o processo de reentrada. Zurita destaca que “a espaçonave começa a perder bastante altitude e já vai apontar para que momento, seguindo essa sequência, ela vai acabar reentrando na atmosfera”.

Ele também revelou que a perda de altitude é monitorada por agências espaciais e astrônomos amadores. A previsão atual indica que a reentrada ocorra em torno do dia 9 de maio, mas o prazo pode variar alguns dias para mais ou para menos.

Uma réplica de museu da nave de descida soviética Venera, que está em uma órbita decadente ao redor da Terra. Crédito: NASA

Brasil está na rota de possível queda do módulo

O módulo Kosmos 482 se move numa inclinação de cerca de 52 graus em relação à Linha do Equador, o que significa que qualquer local entre as latitudes 52° Norte e 52° Sul está dentro da área de risco. “O Brasil está inteiro dentro dessa área onde essa espaçonave pode cair”, alerta Zurita.

Além do nosso país, grande parte das regiões habitadas do planeta também está sob risco. No entanto, até poucas horas antes da queda, é impossível prever exatamente onde o objeto vai atingir a superfície.

Zurita explica que fatores como a atividade solar influenciam o comportamento da espaçonave. “Quando a gente tem o Sol muito ativo, ele acaba dilatando a nossa atmosfera, o que acelera a perda de altitude do módulo”.

O satélite Kosmos 482 pode cair em qualquer lugar dessa vasta região demarcada do planeta – que cobre todo o Brasil. Crédito: Visual SAT-Flare

Apesar da preocupação, o especialista lembra que dois terços dessa faixa geográfica são compostos por oceanos, e grande parte do restante é formada por desertos ou áreas pouco habitadas, reduzindo significativamente os riscos para populações.

Chance de dano é pequena

Embora exista a possibilidade de o Kosmos 482 atingir alguma área habitada, a probabilidade de causar danos materiais ou vítimas fatais é quase nula. Segundo Zurita, “o risco de que isso possa gerar um prejuízo material maior ou até perda de vidas humanas é um risco muito baixo”.

Isso se deve principalmente à ampla extensão de áreas inabitadas dentro da zona de impacto, como desertos e florestas. Além disso, o módulo deve chegar ao solo com uma velocidade reduzida pela resistência da atmosfera, atingindo algo entre 250 e 300 km/h.

Diagrama de uma espaçonave típica Venera, modelo do Kosmos 482, incluindo o estágio superior, o orbitador e o módulo de pouso (centro inferior). Crédito: Arquivos Históricos da NASA

O especialista também ressalta que, ao contrário de foguetes que se fragmentam em diversas partes, o Kosmos 482 deve permanecer praticamente inteiro até o impacto. “Vai ser só uma peça. Então, o risco é menor do que o de outros objetos espaciais”.

Existe ainda uma possibilidade curiosa: o módulo foi equipado com um paraquedas para sua missão original. Embora seja improvável, se esse dispositivo for acionado durante a reentrada, poderia reduzir ainda mais a velocidade da queda e permitir a recuperação da nave quase intacta.

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Cientistas monitoram a queda e vão emitir alertas

O monitoramento da reentrada está sendo realizado por especialistas como Marco Langbroek, da Holanda, reconhecido internacionalmente pela precisão em cálculos de órbitas e reentradas. De acordo com Zurita, no entanto, “é muito difícil prever a reentrada de um objeto com antecedência maior que um terço do tempo restante”.

Isso significa que, se a previsão apontar reentrada em três horas, a margem de erro será de cerca de uma hora para mais ou para menos. Contudo, conforme a hora da reentrada se aproxima, os cálculos se tornam mais precisos. “A partir de três a cinco horas antes da reentrada, os cálculos conseguem uma precisão muito alta, com erros de poucos minutos”, explica o astrônomo. Isso permitirá alertas mais confiáveis sobre a hora e a região aproximada da queda.

Por enquanto, a orientação é acompanhar os boletins das agências espaciais e dos grupos de observadores. A depender da trajetória, a reentrada poderá ser visível no céu como um clarão, semelhante a uma bola de fogo atravessando a atmosfera, como um meteoro.


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