Os avanços tecnológicos também podem ser utilizados para a prática de crimes digitais. Não é raro ver o uso de novas tecnologias por grupos criminosos. E neste contexto o Primeiro Comando da Capital (PCC) acaba tendo destaque global.
De acordo com o pesquisador e jornalista italiano Antonio Nicaso, professor da Queen’s University, no Canadá, a facção criminosa paulista e a máfia italiana ‘Ndrangheta, que são parceiras no tráfico internacional de drogas, são as que mais se adaptaram ao uso da tecnologia.
Crimes digitais estão cada vez mais sofisticados
- Em entrevista à Folha de São Paulo, o especialista afirma que as organizações fazem uso de várias técnicas para multiplicar seus lucros.
- Entre os crimes digitais estão fraudes ao sistema digital de portos na Europa, uso de criptomoedas e fintechs para lavagem de dinheiro, e golpes virtuais que podem causar a ruína financeira de pessoas comuns.
- O pesquisador alerta que o recrutamento de hackers e profissionais de tecnologia da informação em geral também virou um artifício destes grupos.
- No caso da ‘Ndranghetta, um dos exemplos mais emblemáticos envolveu a invasão de computadores do porto da Antuérpia, na Bélgica, com acesso ao sistema de controle de contêineres.
- A intenção era evitar qualquer inspeção nos carregamentos que continham drogas, liberando-os para retirada pelos caminhoneiros que trabalhavam para a máfia.
- Esse esquema foi descoberto pela polícia belga pela primeira vez em 2012, mas continua ocorrendo na Antuérpia e nos maiores portos europeus.

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PCC é influenciado pela máfia italiana
Antonio Nicaso destaca que a influência da máfia italiana pode ter motivado as novas abordagens do PCC nos últimos anos. Informações contidas em uma investigação policial de 2018 reforça esta possibilidade.
Na oportunidade, as autoridades interceptaram mensagens de um mafioso que propôs pagar por um carregamento de cocaína em bitcoins, mas os brasileiros recusaram e pediram pagamento em euros. Alguns anos depois, o PCC passou a utilizar as criptomoedas.

O Brasil sempre foi importante na história da ‘Ndrangheta. Vejo muitas semelhanças entre as duas organizações. O genoma, o DNA da máfia está mudando, adaptando-se a um mundo em constante evolução. Hoje, é praticamente impossível ignorar o uso das novas tecnologias, da internet, das mensagens instantâneas e a inteligência artificial.
Antonio Nicaso, professor da Queen’s University, no Canadá